A entrevista abaixo foi realizada na ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos, onde funcionam vários grupos de estudos, sobre temas de interesse dos profissionais de RH: Geração Y, Cultura Organizacional, Recrutamento e Seleção… Eu – Yara Leal de Carvalho e a Gabriela Azevedo, fazemos parte do Grupo de Estudos sobre a Geração Y e tínhamos a responsabilidade de abordar o tema – Carreira ligado a Geração Y, e resolvemos fazer uma de entrevista para coroar o tema com a opinião de representantes da Geração Y.
Peço aos leitores paciência, pois a entrevista está um pouco longa, mas vale a pena o investimento. Quem tem interesse no tema vai adorar!
Abaixo os mini currículos dos nossos entrevistados:
João Henrique Caram Tucci – 27 anos
Formado em Administração de Empresas – Escola de Administração MAUA.
Trabalhou por aproximadamente 5 anos na Unilever, onde começou como estagiário e saiu como Coordenador, nas áreas de Marketing e Trade-Marketing.
Hoje atua na Nestlé como Gerente de Produtos – Refrigerados.
Thiago Souza Santos – 30 anos
Bacharel em Ciências Sociais pela PUC-SP. Trabalha no Governo do Estado de SP com RH desde 2007. Atualmente coordena programas de avaliação e desenvolvimento de pessoas.
ENTREVISTA
ABRH – Gostaríamos que falassem sobre como foi a escolha de vocês do curso superior, e como essa escolha fez vocês chegarem onde estão hoje.
João Henrique – Bom eu, assim como a maioria dos jovens, com 18 anos não sabia direito o que queria fazer. A única coisa que eu sabia era que eu gostava muito de empresa, por isso acabei cursando Administração de Empresas. Como era um curso bastante generalista, me deu embasamento para fazer o que eu faço hoje. Eu tento entender o que as pessoas querem para desenvolver produtos para elas. Parece uma coisa simples, mas precisa entender muitas coisas. Foi esse curso que me permitiu ter esse tipo de visão.
Thiago – Minha mãe diz que eu escolhi o curso de Ciências Sociais porque eu sou chato (risos). Mas antes eu prestei Engenharia Mecatrônica pela USP, Engenharia Eletricista pelo Mackenzie e Engenharia Civil pela Mauá. E entre todos eu escolhi Ciências Sociais, sendo que tinha passado em todas menos na Eletricista que eu não fiz a última prova. Minha mãe tentava me levar para o outro caminho, mas meu pai me apoiava e dizia que eu devia fazer o que eu gosto. Então escolhi mesmo esse curso, afinal sempre fui uma pessoa do contra, questionava os outros, discutia sobre as coisas que acontecem no mundo, principalmente na política, sociologia, antropologia e tudo o que tem a ver com filosofia e história. Mais do que um apaixonado, sou um defensor das Ciências Sociais. Comecei um MBA em Gestão Econômica e Financeira, e a primeira pergunta que me fizeram foi: Você quer mesmo fazer esse MBA? E eu respondi que gostava de finanças, adoro números, estatística, matemática. No colégio eu só ia bem em matemática, e ia mal em História e Geografia. E esse curso de Ciências Sociais me levou a estar onde estou hoje por acaso. Eu adoro o acaso. Eu me formei, fiz Mestrado, comecei a dar aulas em Graduação e eu adorava. Mas tinha a questão de morar sozinho, precisava sobreviver e pagar as contas. Então comecei a buscar outras opções. Fui trabalhar numa consultoria com desenvolvimento de pessoas que tinha a ver com a parte educacional também. Acabou ficando meio incompatível fazer as duas coisas e abandonei as aulas da faculdade. Quando o contrato terminou, fiquei sem emprego. E um amigo meu recebeu um convite, e me passou o contrato. Eu nem sabia do que se tratava, e ele me disse para tentar. Eu tentei e consegui. Não sei se felizmente ou infelizmente, mas estou muito satisfeito com o que faço hoje.
ABRH – Queríamos saber se vocês têm um objetivo para daqui a 10 anos. Qual seria?
João Henrique – Absolutamente não. Acho que 10 anos é um prazo muito longínquo. Eu sei onde eu quero estar em um prazo de 2 anos. O que seria estar na mesma empresa que estou, desenvolvendo um projeto mais complexo. Acho que é até aí que eu enxergo. Então em longo prazo, ou 10 anos, acredito que gostaria de estar trabalhando com alguma coisa própria, como empreendedor. Eu já lutei muito na vida para me encontrar profissionalmente, acho que me encontrei, sou muito feliz profissionalmente, mas acredito que as coisas vão se encaminhando lentamente. Eu evito fazer grandes planos para 10 anos. Mas eu tenho uma visão. Se daqui uns 5, 7 anos eu estiver numa posição na qual ainda me sinta desafiado, posso continuar. Se eu achar que é interessante para mim, vou continuar.
Thiago – Primeiramente eu quero estar vivo (risos). Pretendo comprar uma moto. Mas para mim é sempre muito difícil. Porque tudo o que eu previa acontecia quase sempre o oposto. Então acaba ficando uma visão meio Ray Charles, não sei muito bem o que vai acontecer. O que eu sei são os rumos que eu quero tomar. Apesar de ter um trabalho na área pública, gostar muito do que eu faço, eu gostaria de tomar outros rumos. Gostaria de poder um dia voltar a ministrar aulas, porque isso é uma paixão que eu tenho, eu gosto de conversar com as pessoas, gosto de pesquisa, gosto de mostrar o que eu sei e ouvir as pessoas com opiniões diferentes, para poder argumentar. Gosto desse jogo com o conhecimento. Aliás, “saber” vem de “sabor”, ambas tem a mesma raiz linguística, e é muito saboroso trabalhar com isso, pelo menos para mim. Prefiro sentar no bar com os amigos e trocar uma ideia e discutir diversos assuntos do que ir para uma balada. Então é isso, eu espero estar vivo e ir para um rumo mais acadêmico. Não que eu abandone o job clássico na empresa, porque eu também gosto muito disso, desse desafio de criar. Mas gostaria de complementar esse trabalho com a parte acadêmica.
ABRH – O que vocês acham que falta para dar o próximo passo em curto prazo, ou já acham que estão preparados?
João Henrique – Eu me sinto preparado, eu estou há 1 ano trabalhando na Nestlé e desenvolvi um projeto que será lançado daqui a pouco. É um projeto com iogurtes com pedaços de fruta, é fantástico, delicioso, comprem (risos). É um produto para toda a família. O produto mesmo chama Iogurte com pedações de fruta. Já existe uma variante, e agora eu fiz uma linha desse produto. Tem de frutas vermelhas, morango, e maçã com banana. É um trabalho muito bacana, e agora vou começar a colher os resultados. Tenho uma boa expectativa, e em janeiro espero ser promovido. Então acredito que estou pronto para o próximo passo, não falta nada.
Thiago – Muito difícil, pelo menos para mim, dizer se eu estou pronto ou não. Até porque eu pretendo até o final do ano concluir os meus projetos, e passar por várias etapas da minha vida para depois tomar esse passo. Um dos motivos de eu ter ido para a área pública foi o fato de eu nunca ter sido chamado em nenhuma seleção de qualquer empresa privada. Tudo por causa do curso de Ciências Sociais, afinal todo mundo associa esse curso apenas a futuros professores. Até hoje as pessoas me perguntam o que eu faço da vida, se eu dou aula. Todos acham que eu não faço nada, então eu digo que sou tão ocupado. Eu estou tentando me preparar para o que o mercado quer, agora estou começando um MBA na área de finanças, também para ver se as pessoas começam a me olhar com outros olhos. Então eu estou me preparando para esse segundo passo. Mas eu acho que hoje em dia as coisas são muito difíceis. Eu posso dizer que estou preparado para dar o segundo passo e transformar o mundo, mas a grande questão é: O mundo está preparado para ser transformado por mim? (risos). Mas eu espero que tudo dê certo, vamos ver.
ABRH – E para o objetivo em longo prazo, o que vocês acham que está faltando para alcança-lo?
João Henrique – Eu fiquei trabalhando por um tempo como coordenador na Nestlé e a partir de janeiro foi como um teste do diretor. Eu falei para ficar um tempo como teste e se não gostassem de mim, que me demitissem, e se gostassem, me promovessem. E foi muito bacana, e ficou bem claro que eu não gostaria de ficar na posição de coordenador por muito tempo. O meu desafio principal é essa questão de ser um líder para o grupo, e quanto mais você vai ascendendo, maior é a motivação de continuar. Por enquanto tenho uma pessoa só trabalhando comigo, mas estamos querendo repor as que já saíram do grupo. E meu desafio é ser um bom líder, preciso desenvolver isso para alcançar meu objetivo.
Thiago – Acho que eu preciso estudar mais, fazer um doutorado para poder dar aulas. Vou ter que me dedicar para escolher a área do conhecimento que eu vou lidar. E para falar a verdade, eu não tenho muito planejado como eu vou conseguir fazer isso, só sei que vou conseguir. Mas o estudar fará parte disso, com certeza. Infelizmente eu gosto de estudar, perco muito tempo com isso. Até porque se eu não fosse assim, não teria ido para Ciências Sociais. Então acho que esse vai ser o meu caminho. Tenho que controlar a minha ansiedade, e ir fazendo as coisas passo a passo. Vou me dedicar pra talvez tentar um concurso para dar aulas em faculdade.
ABRH – Vocês conseguem visualizar os obstáculos que terão que enfrentar?
João Henrique – A minha ansiedade é um grande obstáculo que tenho que enfrentar. Já tive sonhos muito altos, e hoje tento controlar essa emoção interna. Primeiro porque ela atrapalha a minha saúde, não me deixa viver, curtir momentos do meu trabalho e da minha vida pessoal. Às vezes eu quero dar um passo muito maior do que eu posso suportar. Às vezes as coisas deram certo, mas outras vezes me deixaram um pouco decepcionado e frustrado. E você precisa saber administrar isso. Esse é o meu maior desafio que pode ser resolvido com uma terapia, vocês de Coaching sabem disso. É algo bem interno, só se conhecendo para poder melhorar. Gosto bastante de conversar sobre isso, leio muito sobre esse assunto e faço terapia, ou seja, é algo que estou buscando melhorar.
Thiago – Para mim a ansiedade não é um problema, afinal eu nasci ansioso. Minha mãe diz que eu nem esperei ela estar preparada para eu nascer e já pulei para fora (risos). Quando eu era pequeno ela tentava me conter porque eu era muito elétrico. Colocou-me para fazer judô, futebol e muitas atividades. Ela queria gastar a minha energia, mas não conseguiu, e eu acabei gastando a dela. Então minha mãe acabou se conformando com isso. E eu acho que de certa forma a minha ansiedade é boa. Lógico que existem momentos que me prejudica, mas ela não me deixa sossegar em momento algum. Mas pensando agora no meu maior obstáculo: as pessoas já tem uma visão ruim da área pública, e quando alguém quer sair dessa área, é muito complicado. Então meu grande desafio será vencer essa barreira. Outro obstáculo seria ser mais flexível em relação ao trabalho em grupo. Apesar de ser importante é muito difícil. É como time de futebol, você precisa ter uma ligação imensa com as pessoas pra atingir bons resultados. E tem que saber lidar com os choques que aparecerão. É algo como viver em uma micro sociedade. Então isso é muito difícil para mim que sempre trabalhei muito sozinho, com pesquisa, etc. Mas esses choques e conflitos são o que fazem as pessoas crescerem, tanto que os países que mais crescem estão sempre em conflitos. É o conflito que provoca isso em você, e eu gosto disso. Mas tem pessoas que não gostam. Eu me lembro de uma cena que eu acho essencial de um orientador que começou a dar aula em uma classe, e na primeira aula ele chocou todo mundo, ele sempre chocava. Ele fazia isso pra ver se provocava os alunos, e fazer com que os alunos não tenham uma atitude tão passiva. E às vezes as pessoas não entendiam isso. Ele costumava dizer: “O que me separa e me diferencia de você é apenas uma questão burocrática. Eu não me considerar superior a você e te tratar como aluno” Afinal aluno é a pessoa sem luz. A palavra aluno significa a falta da luz. Seria como colocar o outro literalmente como um idiota. Já é considerar que ele é pior que você. Então quando se coloca o outro como igual, isso gera um choque. E muitas vezes é difícil lidar com isso porque a outra pessoa pode não perceber esse choque como algo bom. Às vezes o pessoal que trabalha comigo me pergunta “O que você quer que eu faça?” e eu respondo “Nunca me pergunte isso. Se eu quisesse que alguém fizesse algo para mim eu mesmo faria. Eu quero saber o que você tem a me oferecer”. Isso é um choque também. Principalmente para quem está acostumado com a relação passiva com o chefe. Eu comecei sozinho na minha equipe, e hoje a equipe tem 3 pessoas e vai entrar mais um agora.
ABRH – O quanto que a família de vocês teve e tem influência nas suas carreiras?
João Henrique – Eu, quando estava pra me formar na escola, como muitos garotos, queria ser músico e sofri uma pressão para não ser. Mas acho que isso era um pouco da minha rebeldia, mas de certa forma eles influenciaram na minha carreira, e mostraram que o caminho normal e regular seria por aqui. Mas na minha carreira mais tardia, de ser marqueteiro, acho que não tiveram muita influência. Afinal, meu caminho natural talvez fosse ir para Bancos, e eu fui para essa área, mas acabei não gostando. E acabei direcionando minha carreira pelo que mais me chamava atenção, que era essa coisa de trabalhar com produtos, pessoas. Então acredito que no começo tiveram influencia e mais no final não tiveram tanta assim.
Thiago – A formação que eu tive na minha casa tem muito a ver com a minha personalidade. Acho que isso influiu muito. Primeiro que meu pai colocou logo de cara que eu deveria fazer o que eu gostava, dizia para eu não me preocupar em ter uma carreira que todos quisessem que eu tivesse. Afinal, não adiante nada fazer algo que não gosta, até conseguir ser bem sucedido e morrer de infarto depois de uns anos por não suportar aquilo. Então ele dizia para eu fazer o que eu gostasse, e abraçar aquilo, que o resto seria consequência. Caso não conseguisse, pelo menos eu teria curtido a vida. Meu pai é um cara apaixonado por avião, porcos, churrasco e frango (risos), não sei por que, mas é. Ele é engenheiro e ele acha que é inventor. Então ele gosta de ficar criando coisas. E desde pequeno eu fui muito próximo dele nesse aspecto. Então eu trouxe muito disso para a minha postura de hoje em dia. E minha mãe que é muito organizada, eu acabei sendo o oposto dela. Mas eu acho que essa combinação foi muito boa. Hoje em dia a influencia é bem menor. Eles viram que isso era o que eu queria fazer. A única coisa que eles insistem é para eu nunca parar. Isso eles falam diariamente.
ABRH – O que mais preocupa vocês em termos de carreira?
João Henrique – Difícil dizer. Acho que o que mais fica na minha cabeça é “ser feliz”. O que me preocupa é caso eu vá para uma direção na qual eu não me realize profissionalmente. Para minha diversão e trabalho tem que ter uma intersecção, porque tudo isso tem que valer a pena. Mas se em algum momento eu veja que não está mais sendo bacana, e que eu não possa mais me divertir, então acredito que não vale mais a pena. Quando eu faço um trabalho no qual eu me sinto desafiado e que não vá contra os meus valores, isso é uma realização. E a questão da qualidade de vida é algo importantíssimo pensando nisso. Eu vejo as pessoas reclamando de tudo, mas eu consigo ter uma vida equilibrada, sou noivo, tenho minha cachorrinha que eu amo, consigo ir pra casa, tenho meu instrumento, posso me divertir. E a qualidade de vida também está na qualidade do seu trabalho. Então a qualidade de vida é importante, mas para mim isso já uma coisa implícita.
Thiago – Eu tenho medo de que as pessoas pensem que eu sou um pequeno ditador, e que eu saia fazendo o que eu quero (risos). Antes eu dizia que eu jamais trabalharia com RH, que seria o ultimo lugar que eu iria, e foi onde eu parei e gostei muito. Mas enfim, o que mais me preocupa em termos de carreira é a falta de um desafio.
ABRH – Qual é a expectativa de vocês em relação a receber feedback? Como vocês lidam com isso?
João Henrique – Eu sempre espero que o feedback seja o mais sincero possível, que seja muito claro e transparente. E quem está dando a mensagem também é muito importante, o grau de confiança que você tem em relação a essa pessoa. Se for uma pessoa que você tem muita confiança, é muito mais fácil de absorver esse feedback. Eu tenho o costume de nunca responder o feedback, justificar uma situação ou confrontar. Eu sempre agradeço e guardo para mim, tento fazer algum proveito.
Thiago – Eu concordo com o que ele falou, eu nunca tento justificar nada. Por mais que você ache que tem razão, não deve justificar, e tentar explicar nada. E também a sinceridade da pessoa é super importante. Coisa que eu abomino é quando alguém me da um feedback elogiando e eu acho que está completamente errado. Não gosto de elogios desnecessários. Acho bom a pessoa ter um olhar crítico sobre você. Quando alguém da um feedback e exagera demais, seja para o lado bom o para o lado ruim, as pessoas percebem, ninguém é idiota. Isso faz com que eu perca a confiança que tenho na pessoa.
ABRH – Qual é a definição de sucesso para vocês?
João Henrique – Estar realizado todo dia. Ser feliz todo dia. Eu já mudei esse rumo. Sucesso antes para mim era ser presidente de uma empresa, e hoje já penso que não é só isso. Posso ser um gerente que se diverte e se dá bem com a sua vida. Então eu posso ser um cara de sucesso hoje em dia, por exemplo. Há 5 anos talvez eu achasse que sucesso fosse algo completamente diferente do que eu acho hoje.
Thiago – Eu concordo com ele. Sucesso, primeiramente é se divertir. Isso é essencial. Se você não é capaz de se divertir na vida, com certeza você não vai conseguir ter sucesso na vida. E eu gosto quando algo que eu realizei, de alguma forma afetou positivamente as pessoas, e não a mim. Esse ato talvez seja o que me satisfaz, e chamo isso se sucesso também.
ABRH – Vocês que estão no inicio de carreira, se hoje fossem estagiários, como vocês gostariam que fossem os gestores, aqueles que te dão o suporte para que desenvolvam o trabalho de estagiário?
João Henrique – Eu certamente gostaria que meu gestor me desse alguma responsabilidade, me desse autonomia para fazer algo, mesmo que fosse algo pequeno. Algo que contribuísse para alguma coisa. Gostaria como estagiário de sentir que eu faço parte e que aquilo que eu estou produzindo esta tendo um resultado bom para alguma coisa maior.
Thiago – Gostaria que ele fosse um orientador. Logico que gostaria que me desse responsabilidades, mas eu acho que principalmente, mesmo que fossem projetos menores, que ele me levasse a pensar em determinados valores de forma bem forte. Seria como um orientador de valores de pessoas, de carreira etc. Às vezes eu vejo que as pessoas falam muito “Ah, deixa isso para os estagiários!” e os estagiários acabam ficando com aquela coisa bem mecânica, a mais chata de todas. A gente teve um processo agora, no qual entraram muitas pessoas recém-formadas, e está sendo muito difícil. As pessoas entraram com uma determinada postura e às vezes menosprezam certas atividades. Então trabalhar esses valores com as pessoas que estão entrando, mostrar para eles o funcionamento, a base de tudo.
ABRH – E vocês conseguem ver isso hoje dentro da empresa? Pessoas que possam ter esse papel frente a vocês, no nível que estão hoje?
Thiago – Minha chefe, mas mesmo assim com alguma segmentação. O ideal é que o chefe tenha uma liderança, e tempo para dedicar aos funcionários. Mas lá infelizmente as coisas não funcionam dessa forma, até pelo fato de a unidade ser pequena, então acaba consumindo muito tempo.
Joao Henrique – Acho que sim… consigo pensar no meu gestor como um mentor. É um mentor adotado né. Não existe formalmente um mentor na estrutura que eu estou.
ABRH – Vocês fazem esse papel para a equipe de vocês?
João Henrique – Eu acho que sim. Minha auto avaliação é que eu faço isso. E eu acho isso importante. Se essa pessoa me considera bom nesse sentido é ótimo. Eu trabalhei por 4 meses com essa pessoa, e até o processo dela sair da companhia acho que eu tive uma participação nisso. Não sei se isso é bom ou ruim. E agora ela começou a olhar outras coisas, se divertir. Então acredito que eu tive um papel de orientador com ela.
Thiago – Olha, eu tento (risos). Isso é uma grande dificuldade minha. Pelo menos na minha visão do que é um orientador. Mais do que aquele que vai conduzir é aquele que provoca que o outro se mostre. E eu sempre tento lidar com esse conflito. Eu me esforço. Já tive muitos feedbacks, alguns péssimos, dizendo que eu deveria ter mais paciência. O que eu falo sempre, é que eu não vou conduzir ninguém. Eu não tenho esse perfil. Eu sempre digo que a única coisa que eu não gosto de ouvir é “O que você quer que eu faça?”. Eu sempre dou a orientação, mas sempre pergunto o que a pessoa tem a me oferecer.
ABRH – Vocês percebem diferenças no jeito de trabalhar no dia a dia de pessoas de outras gerações? E como vocês lidam com essas diferenças? O que dificulta o trabalho por conta dessas dificuldades?
Joao Henrique – Eu acho que existem diferenças. Mas hoje em dia apesar dos padrões existentes, as pessoas mais velhas tentam entender, e tentam trabalhar juntas, e ceder cada um a sua parte. Se isso não ocorresse, a gente não teria grupos de boa performance hoje em dia. Pelo menos nas empresas em que eu trabalhei é sempre bom ter um grupo heterogêneo de pessoas. E eu percebo que os bons profissionais tem esse jogo de cintura. E as diferenças estão na velocidade, tanto na carreira quanto nas coisas feitas.
Thiago – Eu não gosto muito de generalizar, mas os maiores choque que eu percebo, não são nem com as pessoas mais antigas, é exatamente com quem está ali no meio. Eles ouvem menos. O pessoal do meio trata os mais novos como ignorantes. Os mais velhos orientam mais, conversam mais e têm mais paciência. Então os extremos conversam mais do que o esse meio. E eu nunca parei para pensar qual seria o motivo para essa atitude dos intermediários. Talvez eles achem que o jovem é muito arrogante, não sei.
ABRH – Até que ponto para vocês os valores da geração Y são diferentes dos valores de representantes de outras gerações? Usando alguns exemplos de vocês: direito de buscar a liberdade; liberdade de se divertir. Ou talvez essas diferenças seriam um fruto de um período mais prospero da sociedade com a maior possibilidade de acesso, coisas que outras gerações não tiveram?
Thiago – Na minha visão o valor sempre muda. Uma vez tive que fazer um workshop com um grupo e passei o vídeo que fala exatamente dessa inversão total de valores. É um vídeo em que as pessoas ficam sentadas em privadas, e não podem falar sobre comida, por que é falta de educação. Então os valores sempre mudam. Não é hoje que os valores são diferentes, eles sempre são. Hoje em dia se volta muito para a questão da sustentabilidade, o meio ambiente, são coisas que vão sendo criadas que têm a ver com a época. E essa mudança dos valores é algo muito produtivo, não só por uma questão de evolução, eles simplesmente mudam e são diferentes.
Joao Henrique – Eu acho exatamente isso. Acho que as gerações anteriores buscavam muito a educação, e a pessoa perfeita ao seu lado. Hoje buscam mais o “ser”, que é ser feliz, viver o dia a dia, ter um trabalho proveitoso. E acho que pensando nessa questão do mundo está indo do jeito que vai, faz com que os jovens se preocupem mais com o futuro, com a sustentabilidade das coisas. Não só a sustentabilidade do meio ambiente, mas a sustentabilidade das relações, das empresas. Hoje em dia você vê uma empresa como a Google que sempre tenta contribuir de alguma forma. E sinceramente eu acho isso uma palhaçada, porque nenhuma empresa conseguiu fazer isso direito até agora. As pessoas falam muito em sustentabilidade para ganhar dinheiro mesmo. Ninguém conseguiu colocar esses valores para dentro de alguma empresa de verdade. Então, acho que o jovem acaba buscando uma coisa mais autentica na hora de ajudar.
ABRH – Vocês têm algum ídolo ou figura inspiradora?
João Henrique – Não tenho ídolos. Acho que tenho mais pessoas que eu me inspiro. São pessoas que não são perfeitas, não são super-heróis, mas são aqueles que têm determinados comportamentos e valores que eu pego emprestado para a minha vida. E em cada área, eu consigo me inspirar em uma pessoa diferente. Posso pensar no meu pai, ou em um chefe meu. Então quando alguém me pergunta qual o meu maior ídolo, acho que eu diria “Eu mesmo”, eu tento ser eu, não é uma coisa de arrogância, eu tento me aceitar e buscar dentro de mim essas coisas. Então eu não consigo pensar em uma pessoa só que representasse tudo para mim.
Thiago – Eu não tenho ídolos. Eu tenho pessoas que, mesmo que eu não conheça, são bons encontros que eu possa realizar. Sejam alguns amigos, até alguns autores que eu nunca conheci na minha vida. São boas pessoas e que são ótimas para uma vida saudável. E ídolos mesmo, isso não é para mim.
ABHR – Agradecemos muito a presença de todos!
A equipe do Blog questão de Coaching, também esteve presente prestigiando a entrevista.
Fotografias e transcrição da entrevista: Virginia de Carvalho Feitosa
Oha, muito interessante ler uma transcrição de nossa fala. Incrível! É muito interessante repararmos a velocidade de nosso pensamento, os hiatos entre as ideias. Só não sei se o meu relato poderá servir de algo, se será útil. Mas sempre fui um pouco crítico com relação à utilidade. Acho que a vida não deva ser útil e sim gozada, aproveitada com muito prazer. Agradeço o convite, a oportunidade e os momentos de diversão que tivemos não apenas no dia da nossa conversa, mas em todos os outros em que pudemos compartilhar momentos agradáveis e ideias instáveis. Abraços Yara e ao… Read more »
Thiago,
Você é uma pessoa muito interessante, tem ideias que com certeza serão inspiradoras para nossos leitores. Conversar e trocar ideias é muito prazeroso e o nosso encontro, realmente foi incrível! Mais uma vez obrigada. Abrs,
Aliás, o João mandou bem. Não apenas na entrevista. O Iogurte que ele está tocando é da hora. Muito bom. Sensacional. Gostei do de banana e maçã. INfelizmente ainda estou tendo dificuldade de encontrar em lguns mercados, mas logo estará em todos.
Abraços novamente.
Thiago obrigado pelo elogio! Você fez um marqueteiro feliz hoje! Sobre a distribuição estamos trabalhando para aumentar! Um abraço e obrigado pelo feedback!
Thiago caso vc leia isso preciso falar com vc e perdi seus contatos… me manda um email!
Ah, meu email é erickleandro@gmail.com
Vamos passar seu recado para o Thiago.
Pois é, os jovens de hoje realmente tem tudo para transformarem a liderança do amanhã.
Abraços,
Claudemir
É isso mesmo, Claudemir! Essa juventude está com tudo. Só precisam contar com gestores preparados. Abrs,
Caros foi um prazer participar da entrevista! Espero poder ter contribuído para o grupo! Um grande abraço e parabéns pelo trabalho!
João Henrique, Nós é que temos que agradecer, sua participação foi muito esclarecedora, para nós que estamos estudando essa geração, tão comentata!! Abrs e mais uma vez obrigada.
Parabéns pela entrevista!
Acho que muitos fatos que foram abordados retratam bem a Geração Y. Muitos talvez achem esquisito tal comportamento…
Novos valores estão presentes nas empresas com a presença desta geração…e é bom os gestores estarem atentos.
Estou num grupo de pesquisa sobre geração Y…e gostaria de pedir, se possível, artigos, indicações de livros …
Saudações Pernambucanas,
Ricardo.