Especialistas e generalistas são qualidades de profissionais que, respectivamente, ou conhecem a fundo e tem amplo domínio sobre determinado assunto, ou que tem uma coletânea de informações acerca de assuntos variados, informações essas que, geralmente, tem menor aprofundamento em relação às informações dominadas por um especialista de cada assunto específico.
Bem, poderíamos nos perguntar por que não sermos especialistas e generalistas ao mesmo tempo? Afinal é sabido que os especialistas sabem apertar os parafusos e os generalistas sabem onde podem estar os parafusos que possam carecer de aperto. Um profissional com capacidade de olhar à sua volta e identificar o que deva ser feito e em seguida fazê-lo de forma primorosa teria uma excelente empregabilidade no mercado de trabalho.
A questão fica por conta do tempo. Aprender a fazer alguma coisa demanda tempo. E não é pouco. Raras as pessoas que tem a capacidade de assimilação rápida. Geralmente o aprendizado é demorado, em especial nos assuntos que envolvem conceitos novos. Eu como professor percebo muitas vezes os alunos passarem todo o semestre interessados na aula, participando dos exercícios etc. e já no final é que se ouve: “Ahhh, agora que eu estou entendendo isto…”. Entre alguém fazer uma idéia do que seja um banco de dados lendo um artigo ou participando de uma palestra, e esta pessoa ter condições de projetar um banco de dados, existe uma distância enorme. A quantidade de conceitos necessários para que se possa projetar de forma adequada um banco de dados é muito grande e muitos desses conceitos são abstratos, uma característica que colabora na dilatação do tempo de aprendizado.
Ao longo dos meus 35 anos de experiência profissional observei que os profissionais [que conheci] que mais se destacaram foram aqueles que tinham uma visão generalista e pelo menos um conhecimento especialista. É claro que sempre existem aqueles diferenciados que se destacam pela inteligência, vivacidade ou pelo carisma, mas vamos deixar estes de lado. Se no mundo dos profissionais existe uma capacidade inerente média, vamos nos basear por ela que é onde se encaixa a maioria.
Vamos imaginar que o nosso conhecimento seja representado por uma esfera que ao nascermos é bem pequena, praticamente um ponto, e à medida que vamos aprendendo vai aumentando de tamanho. Se formos adquirindo conhecimentos variados, em todos os sentidos da vida, esta esfera irá crescer de forma regular, mas se em determinado momento da nossa vida começarmos a nos dedicar mais a determinado segmento do conhecimento, a nossa esfera começará a crescer mais de um determinado lado, começando a ficar ovalada. Se formos restringir a nossa esfera do conhecimento ao nosso conhecimento profissional, podemos imaginar que a esfera de alguns é mais arredondada e a de outros com uma ponta bastante proeminente de um dos lados. O primeiro seria um profissional mais generalista, com conhecimentos de aprofundamento equivalente em todos os sentidos e o segundo um especialista, onde, em determinado segmento da sua esfera o raio é bem maior, indicando maior aprofundamento naquela direção.
Até aqui creio que não foi difícil me fazer entender. O que é importante entendermos a seguir é que, dadas duas pessoas com capacidades semelhantes, o dispêndio tempo para aquisição dos conhecimentos será bastante semelhante para as duas. Ou seja, se uma pretende se especializar mais em determinada direção fatalmente vai ter que deixar de adquirir uma certa quantidade de conhecimentos generalistas. Já na generalista, o tempo que seria necessário para se especializar será investido na aquisição de conhecimentos gerais que o especialista não terá ou terá em quantidades bem mais reduzidas. Só para completar o nosso modelo, já que o tempo será o elemento que irá “encher” a nossa esfera, podemos deduzir que uma esfera perfeita do generalista, e uma esfera bastante abaulada do especialista deverão ter o mesmo volume, só que a esfera do especialista enche mais de um lado do que do outro.
Aqui podemos colocar a questão matemática dos limites, que são situações em que se chegaria quando determinado fator atingisse um valor limite, seja máximo ou mínimo. No nosso modelo, se imaginarmos que nosso especialista passasse a vida inteira se dedicando cada vez mais a fundo da sua especialização, teríamos uma esfera cada vez mais deformada para um lado, passando de um formato de maçã (generalista) para o formato de pêra (especialista moderado) e tendendo a uma cenoura (especialista radical). A decisão, no entanto, de vir a ser um profissional do tipo maçã, pêra ou cenoura cabe a cada um. Diversos são os fatores a considerar, desde o perfil de cada um até as condições de ambiente em cada momento da vida profissional. É bom lembrar que os candidatos a posições de liderança e chefia devem ter uma visão generalista e um pouco de conhecimento de cada um dos segmentos que pretendem coordenar. Já os candidatos a cargos especialistas estes devem ser muito bons na pretensa especialidade para conseguirem destaque como tal e assim conseguirem também alguma diferenciação de reconhecimento. De resto eu diria que o mercado precisa tanto de maçãs como de peras quanto de cenouras. É uma questão de ser bom no seu tipo e evitar cair nas situações matematicamente limites tais como a de saber praticamente nada de praticamente tudo ou, no outro extremo, saber praticamente tudo de praticamente nada.
Abraço a todos.
Marcio Porto Feitosa
Engenheiro, Desenvolvedor de Sistemas e Professor
www.asdp.com.br
Segue reposta do Marcio:
Olá Claudete, grato pelo seu comentário. Conciso e abrangente, de fato você disse tudo. Uma receita de bolo com ingredientes nas proporções erradas, dependendo do estágio em que a execução esteja, não dá para consertar mais. Então, realmente, o profissional precisa estar bastante antenado com relação a esta questão.
Abraço,
Marcio