Um dos grandes desafios das empresas familiares é como gerenciar a performance dos parentes na empresa, ou seja, como os membros da família que atuam na empresa fazem seu trabalho e se relacionam impacta profundamente nos resultados da empresa.
E quando um executivo externo tem como liderado o filho do principal acionista, como gerenciar essa pessoa?
John Davis em uma das palestras que realizou no Brasil falou, “gerenciar a filha é fácil, mais difícil é supervisionar o irmão.”
Outro aspecto que gostaria de mencionar é quantas vezes um familiar é incentivado a trabalhar na empresa familiar sem que haja uma oportunidade de refletir sobre suas necessidades e desejos profissionais?
Outro ponto importante, como serei capaz de dar feedback para meu irmão? E para meu primo? Na prática o feedback acaba não acontecendo na empresa família, segundo John Davis apenas 10% de familiares que trabalham na empresa recebem feedback sobre seu desempenho.
O que venho percebendo é que esses problemas permeiam as empresas familiares e são pouco (ou nada tratados) na prática.
Por outro lado, tive a oportunidade de trabalhar em empresas que utilizaram a presença de um coach externo para auxiliar nesses desafios. Abaixo vou mencionar algumas possibilidades de atuação do coach externo na empresa familiar, qual o benefício de investir nisso?
Um coach externo pode auxiliar o membro da empresa familiar a:
Refletir sobre suas aspirações profissionais e planejar sua carreira: o benefício para a empresa é que somente aqueles que possuem vocação para o negócio demonstram interesse de atuar na empresa. Ao mesmo tempo quando um acionista está realizado com sua carreira ele contribuirá positivamente com a evolução da empresa como sócio.
Receber feedback claro e neutro sobre sua atuação na empresa: qual sua real contribuição com o negócio? Sua habilidade de gestão está desenvolvida? Como é sua conduta profissional perante a propriedade e a família? Qual o efeito de sua liderança (com seu líder, subordinado e outros familiares)? Raramente alguém chega livre e espontaneamente para um familiar fornecendo todas essas informações, porém com a habilidade do coach de selecionar esse feedback e fornecer para o coachee em um ambiente protegido surgem várias oportunidades de desenvolvimento. Outro caso que tive oportunidade de vivenciar como coach é proporcionar um espaço seguro para que o pai pudesse dar feedback neutro para sua filha sobre sua atuação na empresa durante o processo de coaching da filha.
Aprender a separar os diversos papéis que ocupa (pai, filho, sócio, gestor, primo): Quantas vezes, nas empresas familiares os papéis são confundidos ou misturados e resultam em conflitos? Em um atendimento um acionista precisava “cobrar a irmã sobre uma conduta não adequada”, mas não sabia como fazê-lo, pois a mesma passava por uma fase pessoal difícil. Qual o impacto disso na relação que já era frágil?
Transição de Papel (Gestor – Conselheiro de Administração): Como deixar de ser gestor e sentar no conselho de administração da empresa? Uma transição desafiadora para o gestor que era acostumado a se envolver nos detalhes e agora precisa adquirir um olhar mais amplo e estratégico.
Desenvolver Competências de Liderança: Essa não é uma exclusividade da empresa familiar, tenho presenciado problemas de gestão em empresas multinacionais com uma série de processos de gestão estruturados. O que tem acontecido na prática é que as empresas promovem à liderança pessoas com competência técnica e quando o profissional assume o novo papel de gestão de pessoas, sua competência técnica torna-se menos importante e as competências comportamentais como comunicação, relacionamento interpessoal, delegação, motivar a equipe, e desenvolver pessoas torna-se sua principal atividade, porém esse profissional não foi desenvolvido para esse novo desafio. O coach pode auxiliá-lo no seu desenvolvimento como líder, acelerando seu processo de aprendizagem.
As possibilidades acima dizem respeito a um processo individual de coaching. Porém, o que tenho percebido muito fortemente nas empresas familiares que tive a oportunidade de trabalhar é que os primos ou irmãos precisarão decidir juntos no futuro, trabalhar como uma equipe unida e comprometida com a saúde da empresa. Infelizmente, trabalho conjunto não é algo que ocorre da noite para o dia, é preciso exercitar e o Coaching de Equipe é uma excelente ferramenta para o treino do trabalho em equipe. Pode ser incluída na capacitação de herdeiros que trabalham juntos ou que, no futuro próximo, sua capacidade de decisão conjunta impactará consideravelmente nos resultados da empresa.
Abraços,
Patricia Buzolin
Psicóloga formada pela PUC-RS e pós-graduada em administração e estratégia empresarial pela FGV-SP (CEAG). É formada em coordenação de grupos pela SBDG-SP (Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos de São Paulo). Possui curso de extensão em RH na DePaul University, Chicago. Coach Sênior pelo ICI – Integrated Coaching Institute.Executive and Life Coach. Experiência no desenvolvimento de indivíduos, grupos e organizações.
Achei o artigo de bom nível técnico, especialmente por se tratar um nicho dificil como a empresa familiar. Tenho trabalhado com educador, desenhando e coordenado programas de capacitação para empresas familiares, a minha preocupação foi sempre a professionalização e a governança da empresa familiar, separar a familia da empresa. Sem dúvida que um coach pode cumprir um papel fundamental nesse processo. Walter
Olá Walter,
Que bom receber o seu comentário. Fique sempre conosco.
Abaixo a resposta da Patricia:
Walter, obrigado pelo seu comentário! Concordo com você, um primeiro passo no desenvolvimento da Boa Governança é separarmos o que é da família e o que é da Empresa. Que bom que gostaste do artigo!
Boa sorte no seu trabalho!
Abraço, Patricia.