“Frequentemente é necessário mais coragem para ousar fazer certo do que temer fazer errado.”
Abraham Lincoln
“Não ousar é perder-se.”
Soren Kierkergaard
O prato favorito de meu marido é sarapatel. Prato popular pernambucano, composto das vísceras de porco cortadas bem miúdas, sangue coalhado e tempero, muito tempero. Sendo paulistana, descendente de paulistanos e italianos, os paladares que permearam minha vida até casar-me com um descendente de nordestino eram outros. Sempre fui muito enjoada para experimentar algo que fosse diferente do “il vero sugo da Mamma”. Berinjela, só depois dos trinta – e hoje sou fã incondicional.
Tive a oportunidade de participar de um treinamento, para uma equipe de turismo que acompanharia um grupo de 150 cônjuges e funcionários de um grande banco brasileiro, numa viagem à China na época dos Jogos Olímpicos de Pequim. Várias interrogações rondavam as cabeças dos participantes daquele workshop, mas a principal era: vou ter que comer escorpião? A pergunta em si traz dois pontos que, não raro, trabalhamos em coaching. O medo do desconhecido (será que na China só tem comida esquisita?) e o julgamento (como eles se alimentam disso?)
Ousar ter uma nova experiência, seja no ambiente profissional, em outro país ou no almoço dominical familiar, solicita que estejamos abertos e preparados. Evitamos ousar por falta de informação ou por preconceito. Não raro, ambos. Este treinamento aconteceu ao redor de uma mesa, num restaurante chinês em São Paulo, onde os participantes se surpreenderam ao serem apresentados a tantas iguarias chinesas diferentes e saborosas. Nem um espetinho de escorpião foi oferecido e todos saíram satisfeitos. Claro que cada um teve a sua preferência, mas saíram certos de que também era possível ter uma experiência gastronômica excelente na China. Além de terem aprendido o motivo que levou os chineses a comerem de maneira tão diferenciada. Um povo que passou por um período histórico chamado “A Grande Fome”, certamente aprenderia a se alimentar com o que a natureza ofertasse. É um fato. Podemos gostar ou não, mas devemos respeitar e a partir do momento que temos a informação, o conhecimento, reduzimos o medo.
Se eu ainda mantivesse os hábitos alimentares de minha família, teria perdido grandes oportunidades. Entre elas, a de experimentar na China um prato de arroz cremoso combinado com lascas de pato, ovo poché e uvas verdes. Uma das combinações que até hoje me fazem salivar, trazem as recordações de uma viagem maravilhosa e de uma experiência única.
Acho que está na hora de ousar novamente e experimentar o sarapatel.
Sylvia Beatrix é apaixonada por literatura, pessoas e estudos na área de autodesenvolvimento. Acredita que a combinação destas paixões faz dela uma pessoa melhor e uma profissional dedicada. Brasileira, descendente de italianos e austríacos, mora em São Paulo onde estudou Economia, PNL, Eneagrama e formou-se coach pelo ICI Brasil. Está concluindo seus estudos antroposóficos como Aconselhadora Biográfica. Morou na Inglaterra e Alemanha,tem larga experiência como treinadora e coach intercultural auxiliando diversas famílias e empresas em seus processos de adaptação a um novo ambiente.
O conceito prévio das coisas nos faz desistir de oportunidades…de forma diferentes de pensar e se relacionar. Ousar definitivamente não é fácil…mas não ousar é perder-se em sonhos e expectativas de como poderia ser se…
Agradeço por compartilhar sua experiência, Sylvia!
Abraços Pernambucanos!
Olá Ricardo,
Segue a resposta da Sylvia:
Fico feliz que tenha gostado do texto.
Viver no “se” tem sido mais freqüente do que muitos de nós gostaríamos – e às vezes, para sair disso, nem precisamos ir muito longe. Experimentar um novo prato, assistir a um tipo de filme diferente daquele que estamos habituados, ligar para alguém com quem não falamos a muito tempo – entre outras coisas – pode nos estimular a ousar em diversas áreas da vida.
Um abraço e mais uma vez, obrigada!
Sylvia Beatrix