Nesta semana, nosso ilustre entrevistado no Espaço “CASOS DE SUCESSO” é um jovem de 23 anos, formado pela PUC-SP e que transborda energia e empolgação pelo tema educação.
QC: Faça um resumo da sua história de vida.
André Gravatá: Minha história, como a história de qualquer ser humano, é uma montanha-russa de altos e baixos, ora uma narrativa trágica, ora fantástica. Nasci numa família de baixa renda, meu pai é pedreiro e minha mãe é costureira. Estudei em seis escolas públicas diferentes, onde vivenciei situações que me marcaram de jeitos nada potencializadores – como quando um professor repetia, na sala de aula, que um dia ainda veria seus alunos “nas páginas dos jornais, mas nas páginas policiais”. E também, claro, conheci nessas escolas pessoas que me marcaram de outra forma, bem inspiradora, como a professora que me instigava a escrever mais e mais, sendo que escrever sempre foi uma atividade que me apaixonou.
Depois do ensino médio, consegui uma bolsa integral pelo ProUni e estudei jornalismo na PUC-SP. Desde então, me envolvi em vários projetos, organizei dois eventos TEDx (TEDxJovem@Ibira e TEDxJovem@Augusta), liderei ao lado de um amigo uma ação com alunos de escolas públicas, chamada Jogo de Cinema, entre outras andarilhanças e ações.
Recentemente, publiquei um livro ( “Volta ao Mundo em 13 Escolas” ) que surgiu a partir de uma reunião proposta pelo educador Eduardo Shimahara, com a presença de alguns amigos – entre eles, eu -, e o compartilhamento da ideia de escrever sobre escolas inspiradoras através de uma jornada que fizemos por 13 iniciativas de aprendizagem inspiradoras espalhadas por nove países diferentes – que está disponível aqui: www.educ-acao.com. Procuramos experiências de aprendizagem que assumem a diversidade de perfis de alunos e formas de aprender, aproximando a tecnologia de temas como arte, sustentabilidade e empreendedorismo. Para financiar o projeto, criamos uma campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) no Catarse.
Hoje em dia, estou bastante dedicado ao Movimento Entusiasmo, uma ação de imersão no território do centro de São Paulo para levar entusiasmo para a educação, visando mudanças relevantes por lá.
QC: O que é Sucesso para você?
André Gravatá: Sucesso é uma percepção subjetiva, então gosto de pensar que não há O sucesso, mas sim vários sucessos, que sucesso aceita o plural. A Clarice Lispector, no conto Amor, fala de uma personagem que sempre tivera a necessidade de sentir a “raiz firme das coisas”. E minha realização pessoal está bastante ligada a chegar à essência das coisas, em aprofundar meu olhar, em sair da superfície e chegar à profundeza dos significados. Tenho plena consciência de que só assim consigo entregar para o mundo e para os outros o melhor de mim.
QC: O que você acredita que gerou o seu sucesso?
André Gravatá: Sempre que eu tiver sucesso em algo, seja lá onde for, sei que o sucesso não foi “meu”. Ele sempre depende de uma rede de pessoas ao meu redor, uma rede que me dá suporte e generosamente atua comigo. Então, o meu sucesso, hoje e sempre, não é meu, é sempre compartilhado, pois, mesmo que esteja relacionado a alguma iniciativa que iniciei, só se dá coletivamente.
QC: Conte-nos o que levou ao surgimento da sua ideia e que etapas você percorreu desde esse momento até os dias de hoje.
André Gravatá: Vou falar da minha atual ideia, que é a que mais me move neste momento. A ideia do Movimento Entusiasmo, que este ano está desenvolvendo algumas ações no centro de São Paulo, como a Virada Educação, um evento que vai acontecer em Maio para inspirar as pessoas no centro da cidade a ocuparem diferentes espaços e já nesse ato se conectarem com uma noção de educação mais aberta, que transborda pelo território da cidade. Quem conhece essa região, sabe que é um lugar de extremos explícitos, no qual a abundância convive muito claramente com a escassez de percepção desta abundância. ( Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca , Prefeitura , versus 7000 moradores de rua, cortiços, estupros).
Será realizada em um dia, composta por diversos eventos que vão ocupar o espaço público para discutir o tema da educação, de maneira participativa e propositiva.
O impulso para que o Movimento Entusiasmo se tornasse o que é hoje veio de uma viagem que fiz para a Índia, quando passei muito tempo refletindo sobre o horror que temos no mundo e a nossa apatia em relação a isso que acontece à nossa volta, que sai derrubando tudo como um tornado. Voltei com uma força muito grande para desenvolver uma ação duradoura, que realmente crie raízes ao longo do tempo.
QC: Qual é o seu próximo passo?
André Gravatá: Na verdade, não há apenas um próximo passo, há vários próximos passos ao mesmo tempo. Um deles é realizar a Virada Educação.
QC: O que realmente fez a diferença?
André Gravatá: O que realmente fez e faz a diferença é eu acordar todos os dias e me questionar se estou realmente sendo fiel ao que penso e sinto. Pois o pior que pode acontecer é alguém achar que já chegou às profundezas de si mesmo se ainda estiver lá na superfície. O que faz a diferença é eu me perguntar mil vezes como posso diminuir minha hipocrisia e apatia – pois, sem dúvidas, em um mundo tão absurdo, há uma hipocrisia compartilhada, que é quase como um lençol freático abaixo de nós, permeando tudo. Um dia uma pessoa perguntou para uma amiga: como você dorme sabendo que há tantas crianças vivendo na rua aí da sua cidade?
QC: Que impacto você vê no lançamento do livro “Volta ao mundo em 13 Escolas” e os movimentos de educação em que você está envolvido?
André Gravatá: O livro será traduzido para outros idiomas e os secretários de educação de outros estados estão aceitando. Sendo mais pragmático, já dá para fazer mudanças com o que existe agora, basta resgatar das pessoas o que elas sabem e podem compartilhar. Isso já acontece no Vale do Jequitinhonha, na Amazônia e Santo André. Esses compartilhamentos já vêm sendo feito pelo CPCD ( Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento), onde existe o resgate da cultura local. Muita coisa pode ser feita, basta olharmos para o “copo cheio”, para os recursos que temos disponíveis, deslocando o olhar para o positivo, valorizando-se o que já existe, o que está à sua frente ou ao seu redor. Não podemos nos desapropriar da energia e fôlego para a ação.
QC: Qual mensagem você gostaria de deixar para nossos leitores?
André Gravatá: Respire fundo e se pergunte, com sinceridade, o que você é capaz de fazer diante dessa realidade taquicárdica. O que você é capaz de fazer de verdade. Dedicando-se por inteiro.
Vejam abaixo um video do André falando sobre sua visão da Educação hoje e no futuro: