Consideremos, para contextualizar esse artigo, dois casos que exemplificam situações muito comuns nas organizações. De um lado, o caso de Paulo, um gerente de contas a pagar que se encontrava extremamente insatisfeito com a empresa em que trabalhava e que, mesmo buscando nova colocação, aceitou a proposta de se tornar o líder do departamento de finanças da empresa. De outro, o caso de Marina que, convidada para assumir um cargo de gerência, não aceitou porque não tinha interesse em liderar pessoas.
O importante aqui não é como essas histórias se desenrolaram (tenho certeza que você está curioso para saber) mas sim pensarmos em como essas decisões afetaram a carreira e a vida desses indivíduos. E é isso que quero compartilhar.
Ao ler esse texto, não pense se você está lendo uma novidade, algo de que nunca ouviu falar, pois com certeza nada disso é inédito em seu repertório. Pense, sim, no quanto você pratica ou se dedica a cada um desses tópicos. Aí sim, se sentirá verdadeiramente desafiado.
Acredito que viemos ao mundo para sermos felizes e que o conceito de felicidade é único para cada um. Mas conforme vamos crescendo começamos a carregar uma série de exigências, cobranças e expectativas que acabam por direcionar as decisões que tomamos. Nosso piloto automático não é orientado pela nossa essência mas também pela bagagem que carregamos conosco.
Aí está o grande erro. A nossa essência tem que ter uma voz na definição de nossos caminhos. Talvez não a única ou a mais importante mas, por certo, uma voz. Com base nisso, pense no quanto as dimensões citadas abaixo têm pesado em sua balança nos momentos de decisão.
Pense que você está distraidamente andando na rua e que, de repente, um desconhecido lhe empurra contra a parede e lhe faz essa pergunta. Você consegue responder sem pensar? Se a resposta é não, é hora de parar. Diz o ditado que qualquer porto serve para quem não sabe onde ir. Então, em que porto você quer chegar? Por quais quer passar durante a viagem? De quais você definitivamente não quer abrir mão e quais você pode negociar?
Outro ponto importante é o tal do autoconhecimento. Mais uma vez… assunto conhecido, batido, repetido mas… Você sabe quais os seus pontos fortes, quais os seus gatilhos de stress, como reage quando está estressado, frustrado, desapontado, pressionado? E como isso se reflete no tipo de trabalho que quer fazer? Mais uma vez, se lhe falta clareza imediata a esse respeito, está correndo o sério risco de pegar a estrada errada.
Não há nada errado em querer ganhar dinheiro. Não há nada errado em buscar poder ou successo. Não há nada errado em querer aprender constantemente. O errado é não saber como essas coisas pesam na sua balança e como a equação funcionará nos momentos de decisão.
É essencial que a empresa em que você trabalha tenha algo (ou muito) em comum com você. Quais valores éticos e morais norteiam a conduta e os negócios dessa empresa? Qual o ambiente de trabalho? Em que tipo de ambiente político você estará envolvido? Você está disposto a, se for o caso, fazer concessões para trabalhar na empresa?
Esses 4 pontos devem estar no topo da sua lista. Eles precedem qualquer busca, qualquer decisão e são o fundamento para a condução de tudo o que vem em seguida. Voltemos aos casos mencionados do início desse texto.
Paulo é um expert na área de finanças. Encontrava-se descontente na empresa porque algumas práticas relacionadas a sua área não eram exatamente éticas. Buscava nova colocação há algum tempo, sem sucesso. Decide então assumir uma posição de maior responsabilidade. Sim, melhor remuneração mas ainda mais envolvimento nas questões que o incomodavam. Está desempenhando bem a função mas encontra-se extremamente desgastado e reclama dos impactos do trabalho em sua vida pessoal.
Já Marina continuou na mesma posição em que está há 3 anos. Apesar de sua excelente capacidade de construir relacionamentos, de gerar confiança e colaborar com os colegas, ela definitivamente não tem qualquer desejo de ser gerente de pessoas. Acha tudo o que isso envolve muito chato. Está feliz fazendo o seu trabalho sozinha e participando dos projetos. Do que ela reclama? Bem, o salário poderia ser melhor, os benefícios também e já estaria mais do que na hora de ser uma Diretora. Nem sempre consegue se lembrar que, trabalhando numa empresa, só conseguirá tudo isso fazendo um pouco daquilo que não quer fazer.
Aí entra, então, o último ponto que queria abordar com vocês.
Caso sinta que esse é o seu caso, ancore no porto mais próximo, reflita e só parta para a próxima viagem quando for capaz de assumir o leme do seu barco e rumar para a direção certa. A lição de casa é sua. Impessoal, intransferível. E é prá já!
Ana Paula Carneiro da Cunha
Possui mais de 20 anos na área de RH em funções variadas, a maioria delas relacionadas a iniciativas de treinamento e desenvolvimento, recrutamento e seleção, comunicação interna e engajamento de funcionários.
Trabalhou em empresas reconhecidas por suas práticas de RH como American Express, General Electric, Votorantim e Citibank.
Já ocupou posições de caráter local, regional e atualmente é responsável pelo processo de sucessão global da Dell. Ana é formada em Comunicação Social e Direito, pós-graduada em Administração de Empresas e está concluindo uma especialização em Psicologia.