A questão da saúde mental ou psicológica na empresa é ainda um tema difícil de ser tratado e até mesmo discutido de forma aberta no ambiente corporativo atual. Na maior parte das vezes confina-se a discussão ao âmbito da medicina do trabalho e do plano de saúde, que fazem parte da gestão de RH.
No entanto as estatísticas oficiais apontam na direção de um problema que vem afetando grande parte da população e consequentemente as empresas. As causas psicológicas de afastamento do trabalho e o prejuízo na capacidade produtiva de empregados são os aspectos mais visíveis da questão.
Apenas para ilustrar:
Diante disto é praticamente impossível diminuir a importância do tema para pessoas e empresas.
O mundo corporativo atual é reflexo da sociedade contemporânea inclusiva e principalmente das vicissitudes do mercado em que atua. Todas as mudanças e transformações de valores e comportamentos ocorridas neste meio impactaram e continuam impactando o comportamento humano dentro de empresas e organizações. As exigências, fruto das mudanças organizacionais, que recaem sobre as pessoas até este momento são nossas conhecidas:
Infelizmente nem todas as consequências das mudanças são positivas ou, dito de outra forma, nem todos (empresas e pessoas) reagem a estas mudanças da mesma maneira. Alguns (que estão se tornando muitos) adoecem e não conseguem se recuperar a tempo para a próxima mudança. Outros são mais resilientes (como preferem alguns) e resistem às pressões aparentemente de forma saudável. Quer dizer, pelo lado das pessoas , estar preparado para esta nova realidade implica em desenvolver mecanismos de defesa pessoais para, minimamente, sobreviver com saúde mental e física. Pelo lado das empresas sabe-se que uma organização saudável é feita de pessoas saudáveis.
Por outro lado os inegáveis avanços científicos nos campos da psiquiatria, psicologia, neurociência e neuropsicologia, entre outros, já nos mostraram que algumas pessoas carregam pré-disposições de origem genética ou biológica para desenvolver transtornos mentais/psicológicos.
Isto tudo significa que estamos diante de um problema humano complexo, que requer um entendimento multi profissional e um endereçamento de soluções precisas e até mesmo corajosas.
Para a empresa, os custos com saúde representam o 2º maior investimento em pessoas estando atrás somente da folha de pagamento. Os indicadores demonstram a necessidade de otimização e conseqüente redução deste custo de forma racional e cuidadosa. Neste momento aparecem as vantagens de enfocar a promoção da saúde mental de maneira profissional.
Esta discussão alinha-se com a preocupação contemporânea de fazer do trabalho um lugar de saúde e de bem estar, e de enfrentar este “mal”, que até certo ponto se mostra silencioso e muitas vezes mascarado nos ambientes organizacionais contemporâneos: os transtornos mentais / psicológicos.
Muitas frentes de trabalho podem ser planejadas para serem abordadas e proverem algumas condições de melhoria nos indicadores de saúde psicológica no ambiente de trabalho (afastamentos, presenteismo, absenteísmo…). Para citar apenas duas poderíamos nos centrar na 1) Organização do trabalho (tarefas repetitivas, trabalho monótono, carga de trabalho excessiva, exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções, falta de participação na tomada de decisões que afetam o profissional e falta de controle sobre a forma de execução do trabalho, frustração com reconhecimento e recompensas, trabalho com exposição a riscos físicos, estilo de liderança inadequado, limitação de responsabilidade e autonomia…); 2) Protocolos de atendimento médico e gestão do apoio social e do plano de saúde.
Além destas, existem outras tantas oportunidades de enfrentar e resolver adequadamente o problema.
Gestores, e profissionais em geral, não deveriam se constranger diante do tabu e do estigma da saúde mental/psicológica no ambiente organizacional. Poderiam se apoderar de conhecimentos que os permitissem um enfrentamento adequado da questão, que não significa assumir culpas ou indicar condenações, mas sim gerir o capital humano na direção da saúde e da produtividade. Até porque os transtornos mentais / psicológicos de que estamos falando, são amplamente conhecidos, são transtornos na maioria das vezes leves ou moderados, que contam com possibilidades de tratamentos conhecidos e eficazes e que sequer determinariam afastamentos do trabalho. No entanto, representam a segunda maior causa de absenteísmo nas empresas estando atrás somente das doenças ortopédicas. Chegam a significar afastamentos com tempo médio superior a 1 ano.
Desta forma, a velha suposição ou crença popular não cabe nesta questão: o louco neste caso não existe, só na fantasia de alguns.
Por todos, e apenas, estes lados apresentados não parece racional esconder ou negligenciar um fato organizacional tão relevante e de fácil encaminhamento.
Abraços,
Luis Felipe Cortoni
Formação em Psicologia. Filosofia (incompleto).
Trabalhou no Departamento de Desenvolvimento Gerencial da Mercedes Benz do Brasil em 1981.
A partir de 1984 foi gerente de RH na Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo.
Em 1986 iniciou seus trabalhos de consultoria.
Ex-professor universitário nas cadeiras de psicologia educacional, sociologia, e sociologia da educação.
Consultor para empresas da Europa (Portugal/ Espanha) e da América Latina desenvolvendo trabalhos na área de comportamento humano nas organizações.
Professor na pós-graduação da Fundação Vanzolini – POLI/USP.
Autor de vários artigos publicados na imprensa.
É sócio-gerente da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações e do Ateliê de Pesquisa organizacional.
Dr. Luiz Massad
Médico, 34 anos como Clínico Geral com especialização em Psiquiatria Clínica e em Medicina do Trabalho.
Formação em Perito Judicial – 1998-Professor do Curso de formação de Peritos pelo (IBEJ-Instituto Brasileiro de Extensão Jurídica)
Especialização em Auditoria Médica (Fundação Getulio Vargas)
Professor do Curso de pósGraduação em RH em Saúde e segurança no Trabalho
Professor do Curso de Ergonomia e Formação de Peritos Judiciais– C.N.Rossi
Médico Chefe de Indústria de Pneumáticos “Firestone”
Médico do Trabalho e Coordenador do Programa Médico de Saúde ocupacional – Banco Sudameris Brasil S.A
Gerente Médico – Galaxy do Brasil S.A – DIRECTV
Médico Auditor do plano de Assistência Médica e coordenador da saúde ocupacional do Banco Real ABNAMRO
Gerente Médico e coordenador do PCMSO na VR
Médico Auditor do plano de Assistência Médica e coordenador da saúde ocupacional do Banco Santander.
Ex Membro da Subcomissão de Saúde da Febraban.
Atualmente consultor médico da Rede D’Or Hospitais.
Atuação como Perito Judicial em Pericias Previdenciárias cível e trabalhista, prestando serviços de assistência técnica científica e serviços de consultoria: avaliações de Ergonomia, orientação nas ações de saúde ocupacional e auditoria médica com análise do plano de saúde das empresas.