Por se tratar de um tema amplo e interessante, à partir deste post publicaremos mais dois complementares, numa série de 3 artigos, para que você leitor, se aprofunde mais sobre este assunto.
Tudo começa com ela
É, parece mesmo que tudo começa com a autoestima… ou melhor, com a falta dela ou com a baixa dela. Estamos falando sobre gostarmos de nós mesmos, nos amarmos, nos estimarmos. As experiências têm mostrado que, quando temos autoestima, ou, quando temos a autoestima elevada, conseguimos enfrentar melhor as dificuldades do dia a dia. Uma definição de autoestima é de Dorothy Briggs: a autoestima é a maneira pela qual uma pessoa se sente em relação a si mesma. É o juízo de si mesmo, o quanto gosta de sua própria pessoa.
E é assim que tudo começa…
Uma diferença entre o ser humano e os animais é a “ideia de futuro”. Na agricultura sabemos que, se eu plantar e cuidar, vou ver o resultado. Se eu estudar, vou conseguir me formar. Assim, podemos prever, antecipar, programar e fazer modificações para interferir no futuro. Os animais obedecem os instintos – resultado da herança genética – e assim priorizam a preservação da vida e a procriação. Nós humanos, além dos desejos e instintos, somos dotados da razão. E graças a ela, não seguimos apenas os instintos mas conseguimos olhar para o futuro, fazermos escolhas e tomarmos decisões. Muitas decisões e escolhas se chocam com nossos desejos. Veja as crianças: elas querem brincar, se divertir, comer muito chocolate, ficar o tempo todo na TV ou com o celular. O que dizem os pais: você tem de estudar, vai tomar banho, vai escovar os dentes, vai dormir porque amanhã você vai acordar cedo e assim por diante. Ou seja, a criança vivencia esse conflito; ela é confrontada entre o desejo, a vontade, a busca do prazer, e o dever, a obrigação, a responsabilidade… a razão. Esse conflito (essa diferença) existe justamente em função da visão que temos, no caso os pais, sobre o futuro. Os animais não vivem esse conflito!
Mas e daí… qual a relação conflito e autoestima?
Nossa educação em casa e na escola gira em torno de buscar convencer as crianças a fazer o que nós adultos achamos que seja o melhor para elas. Quando a criança faz o que esperamos que ela faça, nós a recompensamos mostrando alegria ou dando os parabéns. Quando fazem diferente, nós a punimos com a nossa tristeza e o nosso “não gostei”. Sabemos que normalmente nossas recompensas vão além da demonstração de alegria e nossas punições além da demonstração de tristeza. Portanto, os pais ensinam aos filhos o que eles devem ou não fazer. As mensagens típicas são expressas assim: “não gostei do que você fez”; “que coisa feia”; “não gosto de você quando você faz isso”; “estou bravo(a) com você porque você mentiu prá mim”; “você só tem me decepcionado(a)”; “você deveria fazer como seu irmão” etc. Por mais que os pais sejam cuidadosos, acabam passando essas mensagens. Como a criança está em formação, ela vai entendendo que determinadas coisas que ela faz, os adultos valorizam e demonstram gostar dela. O oposto é verdadeiro. Por mais que a intenção dos pais seja a de dizer: eu gosto de você, mas o que você fez foi errado, a criança leva isso para o lado pessoal e o seu entendimento é: ele(a) gosta de mim ou, ele(a) não gosta de mim. A conclusão na cabeça dela é que “ele(a) não gosta de mim quando eu faço isso”, ou “ele(a) gosta de mim quando eu faço aquilo”.
O que elas concluem…
As crianças passam a acreditar que o seu comportamento vai determinar se os adultos vão gostar dela ou não. Como as crianças aprendem por imitação, vendo o outro fazer e já sabem o que os pais ou professores esperam dela, ela passa também a usar esse modelo para gostar ou não dela mesma.
Nós morremos de medo!
Os pais normalmente têm medo que os filhos percebam o quanto são amados por eles. Gostamos incondicionalmente dos nossos filhos; mesmo quando fazem coisas que não gostamos. Quando tiram nota baixa, na hora ficamos chateados, mas isso não diminui o amor que sentimos por eles. O nosso medo é que eles saibam disso e possam pensar: se meus pais vão continuar me amando mesmo quando eu faço coisa errada, tiro nota baixa… então eu posso fazer o que eu quiser! Acabamos escondendo que gostamos deles e a mensagem que passa é que não gostamos deles quando eles fazem coisa errada. Ou, que o amor que eles recebem está condicionado a alguns comportamentos; e portanto, precisam conquistar esse amor. Sabemos que isso não é verdade.
Que droga!
A autoestima fica condicionada a determinados resultados, aos elogios. A criança passa a gostar dela mesma quando recebe estímulo positivo. E o contrário, passa a não se gostar quando é “mal sucedida”. Assim, em vez de ter uma autoestima independente do resultado, ela passa a ser dependente da reação dos outros. E levamos isso prá vida adulta. Nossa cultura condiciona a autoestima aos resultados obtidos; ex.: conseguir namorar, comprar um carro, vencer uma competição, ser promovido, ganhar muito dinheiro etc.
Que bom se pudéssemos viver a vida sem depender dos resultados prá conseguir ser gostado pelas pessoas!
Fausto Duarte
Experiência de 25 anos em Recursos Humanos, nos últimos 12 anos vem atuando como Consultor no desenvolvimento e aplicação de projetos e programas de treinamento voltados para gestão de performance, mapeamento de competências e desenvolvimento de lideranças. Formado em Psicologia e Mestrado em Administração com o tema Gestão de Pessoas Baseada em Competências pela PUC/SP.
Bem interessante.