Desculpas Verdadeiras*
Gostaria de compartilhar um trecho de uma palestra proferida por Paulo Gaudêncio a que assisti em um Workshop e que me fez refletir sobre as desculpas verdadeiras que frequentemente usamos para não mudar.
“Há alguns anos vivi duas experiências que serviram de base para a minha visão atual do que seja um processo de mudança. A primeira delas ocorreu quando fui fazer uma palestra para o corpo diretivo de uma grande empresa de São Paulo. Era dezembro e eu estava muito cansado. Não conhecia o local e acabei me atrasando. O auditório, enorme, estava completamente lotado. A soma do cansaço com a ansiedade pelo atraso e, por cima, a ansiedade do desempenho, acabaram me provocando uma crise de labirintite. A consciência do quanto não dar aquela palestra seria prejudicial à minha imagem me levou a recostar numa mesa e ligar o piloto automático. Só eu e minha equipe percebemos a queda de nível do trabalho, felizmente.
Seis meses depois, novo convite para fazer a mesma palestra em Santos (SP) para 25 pessoas, todas de RH. Começo o trabalho e, minutos depois, sinto uma tontura. Imaginei outra crise de labirintite e continuei. Mas o grupo dispersou completamente: descobri que ocorrera um pequeno tremor de terra! Nada de derrubar prédios, mas todos perceberam a pequena oscilação – menos eu, que achava estar com labirintite.
Aprendi duas lições importantes: a primeira é que, num terremoto ou com labirintite, a sensação é a mesma; a segunda é que, exatamente por elas serem iguais, eu preciso saber a diferença, ou assumirei inadequadamente responsabilidades que não são minhas. Pensando de forma equivocada, como acabara de fazer, que o problema era meu – ou, ao contrário, escondendo a minha labirintite, dizendo que tudo é terremoto.
Para fazer a diferença entre a causa interna e a externa uso o conceito de desculpa verdadeira, que retirei da história de um jovem piloto da força aérea britânica, Douglas Baser. Ele perdeu as duas pernas em um acidente aéreo. Reaprendeu a andar com próteses e provou que podia pilotar caças. Voltou à guerra, mas seu avião foi abatido sobre a França, e ele, feito prisioneiro. Era altamente respeitado tanto entre os aliados quanto entre os alemães. Sobreviveu e retornou a vida civil – sempre pilotando aviões.
Esse homem, festejado como herói, é autor de uma frase que, para mim, une terremoto e labirintite: “Quando você tiver uma boa desculpa, não a use.” O que ele chamava de boa desculpa era a verdade. Ou seja: quando você tiver uma verdade que pode usar como desculpa verdadeira, não o faça, ou nunca irá mudar” – * Paulo Gaudêncio
E você? Que verdades está usando para não desafiar suas crenças?