Dizem os especialistas em saúde pública que para melhorar a saúde da nossa população existe um investimento muito melhor que hospitais. Trata-se do investimento em ações preventivas, como uma eficiente rede de esgoto, que atenda toda nossa população e, obviamente, evite a poluição dos nossos rios.
Isso parece óbvio, mas não é! Se você repara, São Paulo, a maior cidade da América do Sul, recebe seus visitantes com um enorme esgoto a céu aberto, que a população, indulgentemente, insiste em chamar de rio. Não contentes com isto, ainda tentamos esconder o rio com árvores raquíticas e vegetação mal cuidada. Ah! Suprema criatividade, chamamos aquela área de o “maior jardim de São Paulo”. Triste e patético.
Os mesmos especialistas indicam que a qualidade da água que nossa população bebe é também um fator determinante para sua saúde. Imagino que você sabe que o Flúor que nossa água contém, tem reduzido drasticamente as caries da nossa população. Ou seja, dentro do possível, o dentista é visitado apenas quando realmente temos necessidade e, claro, podemos pagar.
Pode até soar estranho falar da qualidade da água no momento que nossa maior preocupação é a quantidade, certo? OK, vamos então falar de quantidade. Você sabia que, independentemente da qualidade, nossa rede de distribuição perde 40% da água tratada! Ou seja, gastamos com o tratamento da água e depois jogamos fora!
Vejamos então, o raciocínio é simples: não tratamos o esgoto e jogamos fora 40% da água tratada. Resultado: hospitais lotados!
Antes de fazermos cara de reprovação e pensar em ligar para Sabesp para reclamar, nós, profissionais de RH deveríamos nos perguntar o que podemos aprender com esta situação. Meu primeiro palpite seria que deveríamos aprender a focar nossa energia em medidas preventivas e assim reduzir a necessidade de ações corretivas. Ao mesmo tempo, deveríamos aprender a identificar e combater as reais causas dos problemas das nossas empresas. Desta forma, evitaríamos o inútil gasto de tempo e dinheiro usado para gerenciar crises ou problemas que poderiam ter sido evitados.
Querem alguns exemplos? Vamos lá:
Parece obvio, mas não é. Muitas vezes o processo de seleção é menosprezado ou até negligenciado. Isto é tão grave quanto não investir no tratamento da água que vamos beber.
A análise superficial dos candidatos, seja por falta de experiência, estrutura ou investimento é o equivalente a avaliar a qualidade da água apenas pela sua transparência. É bom lembrar que a água não potável pode ser transparente também.
A qualidade do seu processo de recrutamento e seleção definirá a qualidade dos seus funcionários. Por sua vez, a qualidade dos seus funcionários definirá a qualidade da sua empresa como um todo. Contratações ruins geram resultados ruins. Antonio Ermírio de Moraes dizia: “incompetência, até de graça, é cara”.
No Brasil, por uma deformação cultural, acreditamos que já nascemos craques. Sendo assim, não precisamos de treinamento ou, muito menos, de programas de desenvolvimento de nossas habilidades. Muitas vezes aprendemos com base na tentativa e erro o que, com certeza, é a pior e mais cara forma de aprender. Duvida?
Se nossa premissa é verdadeira, os Holandeses devem estar errados! Com uma população de apenas 16 milhões de habitantes, eles entendem que não podem desperdiçar seus talentos. Para tanto, desde cedo avaliam os perfis dos seus jovens, identificam seus talentos naturais e os orientam sobre as melhores opções de educação e desenvolvimento. Resultado? O PIB per capita da Holanda é de USD 41.000. Ou seja, em média, cada habitante produz anualmente o equivalente a esse valor em riqueza para o país. O valor do Brasil é de USD 12.000, quase quatro vezes menos! Definitivamente, nascemos craques e não precisamos de treinamento e desenvolvimento, certo?
O alerta aqui seria: por favor, não desperdice os talentos de sua empresa! O melhor investimento que você pode fazer é identifica-los e desenvolve-los. Desta forma, você melhorará consistentemente a qualidade da sua organização e dos seus resultados.
Será que você está jogando fora 40% da sua “água tratada”? Não quero ser pessimista, mas acho que esta percentagem deve ser ainda maior!
Empregados mal recrutados e pior treinados envenenam sua empresa. A falta de competência, a insegurança e, pior, os egos fora de controle poluem sua organização! E não vai adiantar plantar arvores em volta para disfarçar.
O profissional que possui o perfil certo para a posição e foi adequadamente treinado para a função, cuidará de suas atividades com eficiência e maturidade, pois simplesmente estará preparado para isso. Este profissional saberá lidar com os desafios da função de uma forma tranquila e filtrará adequadamente a pressão. Por outro lado, um profissional com o perfil inadequado será apenas um amplificador de problemas, criador de crises e um destruidor de equipes, ou seja, um piromaníaco corporativo! OK, por favor, sempre mantenha por perto o número dos bombeiros.
Os bons gestores não são fruto do acaso! Eles devem ser formados! Bons técnicos, bem treinados, podem se transformar em ótimos Gerentes. Bons técnicos, não treinados, não passam de uma loteria. Você gosta realmente de jogos de azar? Vamos brincar de loteria corporativa? Faça suas apostas! Eu serie a banca. Garanto que em pouco tempo estarei vivendo de renda!
Por outra deformação cultural, no Brasil, odiamos dar notícias ruins. Somos os reis do feedback falso. Odiamos a comida, mas quando o garçom pergunta, garantimos que “estava ótima!”, mas saímos falando mal do restaurante.
Porque motivo nosso comportamento seria diferente em nossas organizações?
Evite surpresas! Tenha boas ferramentas de avaliação tanto de desempenho individual, de grupos, de lideres e do ambiente de trabalho. Desta forma, poderá identificar rapidamente problemas potenciais e fazer os ajustes necessários, a tempo.
Há um principio da área de tecnologia que diz que enquanto mais cedo você identifica um problema, mais barato será a correção. Ou seja, quer ganhar dinheiro? Não esconda ou disfarce seus problemas, enfrente-os. Sai mais barato!
A gestão de RH nas empresas vem se transformando em um permanente combate às crises e aos problemas crônicos. Qualquer semelhança com os Prontos-socorros não é mera coincidência, pois gastamos toda nossa energia no combate, apenas, aos efeitos e ficamos sem tempo ou, pior, sem animo para combater as causas. Desta forma, nunca vamos sair do problema.
A solução é trabalhar com ações preventivas, um tipo “saneamento básico” de RH, focado em:
Estas medidas farão com que as empresas parem de gastar tempo e, principalmente, dinheiro com a administração de eternas crises internas e foquem seus esforços no crescimento de seu negócio.
Cristian Parada, 54 anos, tem mais de vinte de experiência em Recursos Humanos, tendo passado pelas empresas AGIP (Grupo ENI), Interchange (Grupo Citi), Compaq, Bearingpoint (ex-KPMG Consulting) e British Telecom. Atualmente ocupa a posição de Vice-Presidente de RH para América Latina na Xerox Services. Ele tem formação acadêmica na área de tecnologia, onde iniciou sua vida profissional (ninguém é perfeito) e MBA em Gestão de RH pela USP (para dar suporte à radical mudança de rumo). As constantes visitas a trabalho a diversos países da região tem lhe dado uma visão clara de nossos problemas comuns, das nossas necessidades e principalmente de nossas limitações técnicas e culturais, não podendo evitar a sensação de que nossa região está ficando para atrás em relação ao resto do mundo. Cristian, filho de um Engenheiro e de uma professora de história que aos 12 anos lhe ensinava sobre as encíclicas papais (assunto básico que um menino desse idade tem obrigação de saber), é um leitor compulsivo. Dizem que ele já foi surpreendido lendo, na falta de outra opção, bula de remédio, mas ele jura que já está curado, pois a Internet facilitou as coisas. Além de sua compulsão por livros, ele coleciona CDs (todos originais) e LPs (não há como falsificar). Se quiser conversar com ele, vá até a Praça Benedito Calixto os sábados de manhã. Você o encontrará no corredor dos discos de vinil. Mas, cuidado, não se aproxime se ele estiver profundamente concentrado estudando a capa dupla de um disco do Terço, banda do final dos anos 70, em perfeito estado. Pode ser perigoso. Cristian é casado com Marina Beltrami e juntos desenvolvem um trabalho voluntário e gratuito de apoio a profissionais em transição de carreira. Eles acreditam que ótimos profissionais acabam perdendo boas oportunidades de trabalho apenas por falta de orientação. Na visão deles, o país é carente de bons profissionais e que é um dever (e um prazer) contribuir para evitar o desperdício de talentos.