Os Jogos Olímpicos, se não for o maior, com certeza é um dos maiores eventos do mundo. Neste momento que escrevo faltam exatos 204 dias para a abertura oficial. Serão mais de 10 mil atletas de 205 países, que disputarão 306 medalhas durante 17 dias, sendo 136 provas femininas, 161 masculinas e 9 mistas. As competições serão disputadas em 33 locais de provas, a organização contará com 45 mil voluntários, 85 mil funcionários terceirizados e 8 mil funcionários. Algumas curiosidades para dar a magnitude do evento: 80 mil mesas, 40 mil cadeiras, 60 mil cabides, 40 mil camas, 11 milhões de refeições! E o evento será coberto por mais de 25 mil jornalistas!
Como ex-atleta de natação, que gravava as competições para ficar horas analisando a técnica dos grandes nadadores e pensando em como eu poderia melhorar, fico ansioso só de imaginar a grande migração de pessoas para um único lugar e todos envolvidos no espírito olímpico: Citius, Altius, Fortius (mais rápido, mais alto e mais forte). Competir com honra, respeito e determinação. Foi esse espírito e pensamento que me tornou um apaixonado pelo desenvolvimento humano. O esporte é um palco em que podemos aprender muito e levar isso para nossa vida. Estejamos atentos durante os Jogos para todo tipo de aprendizado e exemplo que podemos tirar para nossa vida pessoal e/ou profissional. Mas até lá temos um longo caminho a percorrer. Não só os atletas se preparam, há muita preparação nos bastidores da cidade sede e vamos explorar esse tema. Imagine que a cidade é uma empresa, o que podemos refletir e aprender?
Em relação aos gastos, uma das principais preocupações dos brasileiros, segundo o portal Rio 2016 foram investidos R$ 7.4 bilhões até agora. Desse valor são provenientes: 40% de patrocinadores locais, 25% contribuição do COI, 16% da venda de ingressos, 12% de patrocinadores internacionais e 7% de licenciamentos e receitas diversas. Esse valor foi e será investido em despesas operacionais do evento (credenciamento, alimentação, seleção e treinamento, despesas médicas), tecnologia (resultados oficiais através de sistemas e softwares, 7 mil pontos wi fi, infraestrutura para transmissão, telecomunicações, servidores, segurança dos sistemas, telões), competições e cerimônias (1 milhão de equipamentos esportivos, 832 eventos olímpicos e paraolímpicos, 4 grandes cerimônias), acomodações (34 mil quartos), transportes (deslocamentos com 5 mil veículos, 2 mil ônibus, 4500 motoristas, 26 milhões de km rodados).
Mas e o legado urbanístico, de desenvolvimento, para a cidade? Isso foi e continua sendo muito falado e explorado por políticos e cartolas do esporte. Há alguns meses, Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, disse que o Rio deixará Barcelona no chinelo. A cidade é referência no assunto de legado esportivo em Jogos Olímpicos. Mais de duas décadas após a Olimpíada de Barcelona, hoje a cidade é irreconhecível para aqueles que a conheciam antes. A principal modificação foi a área portuária, antes praticamente esquecida e hoje é o metro quadrado mais disputado da cidade. Os quatro núcleos que concentraram as instalações esportivas dos Jogos foram conectados por quase 50 Km de novas vias, que durante os Jogos facilitaram a circulação das pessoas e após aliviou o tráfego. Barcelona se tornou pólo de negócios, um dos destinos mais cobiçados por turistas (o número de visitantes mais que dobrou na década seguinte), o aeroporto se modernizou e cresceu, além de outros benefícios difíceis de serem mensurados como influência, diversidade e charme.
Londres em 2012 também teve um legado importante. A área industrial foi revitalizada começando pela descontaminação do solo, um trabalho de quatro anos a um custo de R$ 230 milhões, que levou a limpeza de 2 milhões de toneladas de solo descontaminado dos resíduos tóxicos. Um detalhe interessante: algumas instalações esportivas de Londres foram feitas para serem totalmente transportadas para outros lugares, não se tornando um elefante branco na cidade e tendo seu valor justificado pelo uso completo da estrutura. O que não aconteceu com algumas instalações de Barcelona, por exemplo o parque aquático e o estádio, que estão obsoletos e mal cuidados. Em parte, pela crise econômica, e o que os espanhóis juram que será revertido assim que a situação melhorar.
E o que o coaching tem a ver com tudo isso? Vivemos em um mundo sistêmico onde o bater das asas de uma borboleta aqui pode causar um furacão no Japão (efeito borboleta). Mas parando para pensar no que isso reflete em nós. Quantas vezes aguardamos um evento, um fato, uma situação que venha mudar nossas vidas? Dizemos coisas como: quando eu tiver um cargo de liderança, quando eu casar, quando tiver um salário melhor, quando eu me mudar para tal lugar. E as vezes quando essas coisas chegam não temos o ímpeto ou a força necessária para implementar a mudança real. E na empresa? Que tipos de investimentos escolhemos fazer, com quais objetivos, qual a sua continuidade (ou tratamos tudo como eventos isolados?), que áreas precisam ser revitalizadas, o que precisamos demolir e reconstruir…
Será que o Rio conseguirá melhorar o trânsito? Revitalizar áreas degradadas? Limpar a Baía de Guanabara? Analisando esse processo pela perspectiva do coaching podemos perceber que falta muito planejamento, cumprimento dos prazos estabelecidos (ou falta de coerência ao se estabelece-los), não há um objetivo claro e bem definido (apenas dizer que haverá um legado é pouco específico, que tipo de legado queremos deixar?). Talvez vale a reflexão: qual o propósito disso tudo?
Forte abraço!
Alexandre Nakandakari