Eneagrama (ennea – nove; grammos-figura) é uma sabedoria milenar, simbolizada por uma figura de nove pontas, que possivelmente teve origem no antigo Egito e foi ocidentalizada no sec. XX a partir dos estudos de George F. Gurdjieff, um filósofo armênico. A forma como hoje o conhecemos e utilizamos em trabalhos de desenvolvimento de pessoas é uma evolução dos estudos feitos por Gurdjieff. Oscar Ichazo e Claudio Naranjo adaptaram o Eneagrama, fundamentados em conhecimentos da psiquiatria e psicologia, tornando-o um instrumento de auxílio no mapeamento de caminhos para desenvolvimento dos seres humanos. As nove pontas do Eneagrama, então, passaram a representar nove tipos de personalidade ou Eneatipos.
O que o Eneagrama tem de muito interessante é que ele descreve motivações dessas personalidades, ao invés de simplesmente descrever comportamentos, embora também o faça. O intuito não é explorar o que as pessoas fazem, mas sim o porquê fazem, o que de mais profundo as leva a se comportar de uma determinada maneira. Ele auxilia na compreensão dos filtros, criados desde nossa infância, que impulsionam nossa ação e no entendimento de como nosso padrão de conduta nos distancia de nossa essência, estruturando comportamentos reativos. Além disto, aponta forças de cada Eneatipo que contribuem com nosso viver em sociedade e estimulam a evolução pessoal.
Isto confere ao Eneagrama, já em primeira instância, a condição de um instrumento de autoconhecimento profundo e ao mesmo tempo prático. Entrar em contato com este conhecimento é relativamente fácil, pois há diversos materiais bibliográficos, audiovisuais, sites de conteúdo que disponíveis para quem se interessar – alerto, entretanto, para a preocupação com a qualidade deste material. Compreendê-lo requer disponibilidade para a auto-observação, sem pré-julgamentos ou mesmo defesas diante daquilo que se observa em si, pois somente assim a consciência do próprio Eneatipo emergirá.
Embora acessível, é um conhecimento complexo, que requer cuidado para ser usado em uma jornada autodidata. Há alguns questionários que podem aproximar a pessoa da identificação de seu Eneatipo, porém muitos desvios e confusões podem surgir no percurso, se não houver orientação adequada. A beleza do Eneagrama está também no fato de que, mesmo que a pessoa não se aprofunde ou não consiga determinar seu Eneatipo, já há ganhos advindos da leitura de cada Eneatipo, que proporciona expansão do autoconhecimento e melhor compreensão do comportamento do outro. Algumas respostas, antes obscuras, passam a se desenhar conforme se avança no entendimento de cada personalidade e se abre espaço para uma apreciação do que gera nossos padrões de conduta.
Tenho utilizado bastante este conhecimento em processos de coaching, com ótimos resultados de autodescoberta e de revisão de crenças e padrões. Em meu processo de trabalho, convido meu coachee a se apropriar do Eneagrama na profundidade que desejar e a utilizar suas descobertas para apoiá-lo não só na conquista de seu objetivo de coaching, mas também na adoção de novas posturas, mais favoráveis para seus objetivos de vida. É maravilhoso observar como o Eneagrama funciona como rede de sustentação para a jornada do coachee.
Porém os benefícios não se resumem a processos de coaching. O Eneagrama pode ser utilizado por pessoas e grupos dentro de organizações de qualquer tipo, estimulando o desenvolvimento dos indivíduos e das equipes de trabalho que buscam tirar melhor proveito do autoconhecimento, da diversidade e da complementaridade entre os diferentes “jeitos de ser”. Organizações de relevância no mercado já fizeram uso do Eneagrama com resultados significativos. Também instituições de ensino, em diferentes níveis de formação, têm feito uso deste conhecimento para auxiliar seus alunos a se conhecerem melhor e seus professores a trabalharem com seus alunos de forma distintas, aproveitando as potencialidades e particularidade de cada Eneatipo. São inúmeras as possibilidades de aplicação do Eneagrama na vida individualmente e em grupo.
Deixo a seguir algumas fontes para que o leitor possa conhecer um pouco mais sobre este instrumento. E concluo este post com algumas palavras de Herman Hesse , que para mim simbolizam o que o Eneagrama pode fazer por aqueles que querem desfrutar do prazer – mesmo que fazendo contato com a dor – do autoconhecimento.
“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”
Herman Hesse
Para saber mais:
Cursino, Nicolai, Eneagrama para Líderes
Daniels, D.- V. PRICE, A Essência do Eneagrama (São Paulo, Pensamento, 2003)
Lapid-Bogda, Ginger – Liderança e o Eneagrama: como identificar que tipo de líder você é para alcançar o sucesso total (Ed. Cultrix, 2008).
Naranjo, C., Os Nove Tipos de Personalidade (Rio de Janeiro, Objetiva, 1997)
Naranjo C., O Eneagrama da Sociedade (São Paulo, Esfera, 2004))
Palmer, Helen, O Eneagrama (São Paulo, Ed. Paulinas, 1993 )
Riso, R. – H. Hudson, A Sabedoria do Eneagrama (São Paulo, Cultrix, 1999)
Márcia Fonseca
Psicóloga, Coach, Consultora e Docente na área de Gestão de Pessoas, atuando no segmento de serviços de saúde há mais de 20 anos.
Ótimo artigo Márcia Fonseca.
Parabéns Yara Leal! Questão de Coaching sempre nos brindando com ricos conteúdos.
Abraços
Jacqueline Cerqueira
Oi Jacque, bom ver você por aqui e saber que acompanha o nosso conteúdo! Valorizo sua opinião. Bjs,
Olá Jacqueline, obrigada pela atenção em ler o artigo e pelo feedback. Fico muito contente que ele tenha sido proveitoso. Minha gratidão.
Gostei muito do artigo, embora conhecesse superficialmente o Eneagrama, aprendi muito.
beijos e ótimas festas!
Oi Carlos, que bom que o artigo puxou um fio da meada desse conhecimento para você. Esse era um dos meus objetivos.Obrigada por compartilhar.
como poderia trabalhar em grupo…