Como bom brasileiro, aprecio uma partida de futebol fair play, mesmo quando envolve a derrota do meu time. Como brasileiro, difícil foi conter a comoção ao saber do fatídico acidente ocorrido com os atletas e com todas as vítimas da queda da aeronave que os levava para uma heróica e inédita conquista internacional.
Como profissional da área de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas também fiz várias reflexões e paralelos ente o mundo corporativo e o trágico acidente ocorrido, vejamos algumas delas:
Já é sabido que o piloto e vítima da aeronave acidentada, além de estar no comando na ocasião, era também um dos sócios da companhia aérea. Sabido é também que alguns aspectos técnicos, tais como autonomia de combustível versus distância a ser percorrida, embora questionados pelas autoridades competentes, se é que podemos usar este termo, entretanto foram totalmente negligenciadas, tanto pelo despachante que infelizmente não sobreviveu, bem como pelo Comandante. Comentários ainda surgem que o plano de vôo diferia da rota efetivamente realizada dentre outros aspectos ainda não comprovados.
Apesar disso, o plano de vôo apresentado recebeu o carimbo e assinatura da Administração Autônoma de Serviços Aeroportuários e Navegação Aérea da Bolívia (AASANA). Ainda não se sabe as razões pelas quais várias observações foram feitas no plano de vôo e mesmo assim aprovado. Infere-se que flexibilizaram alguma coisa neste caso, ferindo o compliance às regras da Aviação Civil.
Uma das explicações que nós de Recursos Humanos temos é para onde está direcionada a atenção destas pessoas, chamamos isto de foco. Como exemplo, houve uma viagem que realizei de helicóptero, quando tive a oportunidade de conversar com o piloto e aproveitei para questionar porque a necessidade de um piloto conduzir a aeronave ao invés de seu proprietário, afinal era uma emoção comparada a guiar uma Ferrari conduzir aquela aeronave, então ele sabiamente me respondeu: O sócio proprietário das aeronaves tem foco nos compromissos, na agilidade, pontualidade, e na rapidez, e resultados; Geralmente são empresários, naturalmente tem alguma e às vezes muita ambição e acepção ao risco, o que um Comandante, no caso o piloto enquanto contratado, mantém foco na perfeita execução de suas atribuições, foco na sua segurança e das pessoas que está conduzindo, bem como do equipamento que esteja operando, desconsiderando totalmente os demais fatores.
Voltando ao trágico acidente, segundo publicado na mídia não foram raras as vezes em que a aeronave da empresa fez rotas no limite de sua autonomia de vôo. O que eu quero dizer com isto é que desta vez a conta saiu muito alta por colocarem as pessoas com diferentes focos nos lugares errados.
Após muitos anos aprendi que nenhum acidente ocorre por um único fator isolado, é sempre pela combinação entre eles. E desta vez a combinação foi praticamente explosiva. Qualquer um dos três protagonistas do acidente que houvesse se oposto a decolagem, hoje estaríamos comemorando mais um título internacional ao invés de lamentando um velório coletivo.
O lugar de empresários não é atrás do painel com as mãos no manche de uma aeronave, é administrando, identificando oportunidades e realizando negócios que visam à perpetuação e o crescimento da empresa que administra ou construiu. Justamente por este motivo as empresas estão cada vez mais profissionalizando sua administração.
O papel o de um despachante é analisar o plano de vôo e assegurar que esteja condizente com as especificações da aeronave, com a segurança dos passageiros e da tripulação, com os fatos e realidades possíveis durante o percurso e não defender as opiniões ou interesses do patrão Comandante.
O papel de um controlador ou agente que trabalha na sala de tráfego é questionar e até mesmo recusar o plano de vôo ou submeter ao superior, para impedir uma decolagem ao invés de flexibilizar, fazendo concessão em troca de não se sabe o que.
O que eu quero dizer com isso tudo é que, primeiramente saibamos o valor de nosso trabalho em avaliar e identificar as pessoas certas para as posições corretas, ou seja, quais competências são necessárias para um cargo e quais competências as pessoas dispõe ou não para tal.
Frequentemente vejo candidatos reclamando por terem sido reprovados em processos seletivos, principalmente na aviação, onde conheci mais detalhadamente alguns candidatos que tentaram por diversas vezes em várias Cias. aéreas. Lamento mas lhe faltam as competências indispensáveis.
Lentamente e à duras penas, as organizações estão aprendendo que o fator humano é o mais relevante neste caso, pois é única e exclusivamente através das pessoas que os riscos podem e devem ser mitigados ou eliminados.
Abraços!
Carlos Prado Consultor RH e Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas FIA – USP 2009/2010