Autodesenvolvimento é um tema em torno do qual gravito há muito tempo. Um assunto que amo e que naturalmente cria elos entre mim e as pessoas que fazem parte dos diversos contextos dos quais participo.
Cada vez mais me convenço de que o autodesenvolvimento é realmente uma necessidade inerente ao ser humano, contudo, ainda não estou convencida de que as pessoas efetivamente se comprometem com esta como deveriam ou poderiam. Parece-me que a relação é mais idealizada do que se gostaria que fosse.
No discurso o interesse no desenvolvimento pessoal e profissional é evidente – alguns podem considerar que a origem deste interesse não está no âmago do ser e sim na pressão da sociedade – contudo na prática, o que percebo é uma atitude permeada pela autoimposição de limitações como se fossem fatos ou verdades. Explico: define-se um padrão do que seria investir no autodesenvolvimento, tomando-o como o único percurso existente e com isto o raio de ação está fadado à redução imposta pelo padrão.
Resultado: ficamos presos a algumas estratégias de desenvolvimento formal como fazer uma graduação, uma pós ou mestrado, que logicamente possuem seu valor, mas podem significar muito pouco quando o conhecimento não foi absorvido e transferido para a prática.
Confinados nesses ideais, deixamos de abrir outras frentes quando as primeiras não nos parecem viáveis.
Costumo questionar as pessoas que compartilham seu interesse em evoluir na carreira: quais recursos você tem usado para se desenvolver? Invariavelmente cursos é a primeira resposta que recebo – seja por estar investindo ou não nestes. Continuo o diálogo com um “o que mais”. E muitas vezes a conversa fica em suspenso, com uma tomada de consciência – já positiva – de que pouco está sendo feito.
Dependendo do quadro, dou continuidade ao assunto ampliando meu leque de indagações com o objetivo de abrir perspectivas diante desse silêncio:
– Você participa de alguma atividade fora da empresa que o (a) ajuda a desenvolver alguma habilidade ou comportamento?
– Participa de algum grupo de estudo ou discussão sistemática sobre algum tema correlacionado à sua atividade?
– Toma parte em eventos (presenciais ou virtuais, pagos ou gratuitos) como simpósios, congressos, jornadas etc? Quando participa, são eventos focados somente na sua área ou você também integra discussões sobre outros temas?
– Acessa sites que disponibilizam conteúdo de valor, gratuito ou pago, como palestras, cursos, entrevistas?
– É cadastrado para receber newsletters de organizações que veiculam assuntos que contribuirão para sua formação?
– Assina revistas de gestão ou temáticas que ampliem sua bagagem sobre o mundo organizacional?
– Lê livros sobre temas que possam expandir seu conhecimento ou que lhe possibilitem criar links com seu cotidiano profissional?
– Você procura se envolver com outras áreas e assuntos fora do seu cotidiano para ter uma visão ampla da organização onde trabalha?
Acredito que muitas outras questões poderiam ser feitas (fique à vontade para colaborar, leitor) para nos ajudar a refletir sobre o quanto estamos sendo estratégicos na condução de nossa formação profissional.
Percebo no cotidiano que muitas pessoas, principalmente os jovens, preocupam-se em demasia com o recebimento de certificado. Já fiz seleção por muitos anos e outro dia conversando com um amigo que contrata pessoas, indaguei: você alguma vez pediu certificado de um curso para algum candidato? Ele pensou a respeito e me respondeu: – Não, exceto quando o curso é pré-requisito para assumir a função. O porquê disso? Porque um mero certificado não diz absolutamente nada. Eu tenho alguns, na minha história, que me agregaram pouco e tenho cursos, leituras, diálogos e experiências, certificados ou não, que me transformaram numa profissional de valor.
Para mim, o que é realmente relevante é o conhecimento efetivo adquirido e sua transferência para a prática (momento em que o aprendizado efetivamente acontece). Sendo assim, se você participou de eventos que não emitiram certificado, mas lhe agregaram valor e consegue discorrer sobre isso durante uma conversa com seu gestor ou um selecionador, isto é ponto positivo para você e para seu currículo. O mesmo vale para qualquer atividade que envolva conhecimento e desenvolvimento de habilidades, em outras palavras, que amplie suas competências profissionais.
Cuidar da carreira é como compor uma mandala onde a diversidade e a harmonia entre cada componente traduzem-se em beleza, significado e valor. Não se compõe uma mandala, dentro do conceito artístico, somente com uma única figura que se repete na mesma cor e formato.
Como contribuição para aqueles que quiserem investir algum tempo em planejar o desenvolvimento de sua carreira com uma visão ampliada do que isto significa, compartilho uma matriz que foi inspirada em material apresentado pelo prof. Joel Dutra, um especialista em carreira, e que tem sido útil em meu trabalho.
Esta matriz pode ser preenchida em qualquer momento da carreira e merece ser revista periodicamente, semestral ou anualmente. Seu preenchimento é feito com a inclusão de todo e qualquer tipo de ação que gere valor para movimentar a carreira nas 4 dimensões apresentadas vertical e horizontalmente. É um recurso visual que nos ajuda a organizar as ideias e também nos dá uma dimensão interessante do grau de evolução de nossas práticas de desenvolvimento. Ela também nos lembra de um fato incontestável: carreira é algo individual e intransferível, portanto, responsabilidade de quem a possui. A organização é apenas um coadjuvante nesse processo.
Márcia Fonseca
Psicóloga, Coach, Consultora e Docente na área de Gestão de Pessoas, atuando no segmento de serviços de saúde há mais de 20 anos.