Credibilidade é um tema que chama cada vez mais minha atenção, em primeira instância por ser um requisito de alta relevância para mim e também porque além de sua ausência se evidenciar mais e mais no cenário político/social, tem sido pauta de minhas conversas dentro das organizações.
Não tenho dúvida de que a maioria de nós saiba o quanto a credibilidade é essencial para as relações estabelecidas em nosso cotidiano. Entretanto, o que observo é que ter consciência não pressupõe o cuidado constante para preservá-la. Muito provavelmente porque este requer auto-observação, autoconsciência e um olhar sistêmico sobre o entorno.
Stephen M. R. Covey, em seu livro A velocidade da Confiança, descreve a credibilidade como sendo composta por 4 dimensões: intenção, integridade, capacitação e resultados, sendo as duas primeiras relacionadas ao caráter e as outras duas à competência.
Uma intenção positiva é algo expressivo, contudo se a integridade é falha, se aquilo que se prega não corresponde ao que se faz, então o resultado benéfico se anula. Da mesma forma, por mais que o investimento em capacitação gere resultados excelentes, sem integridade, a reputação profissional ou da organização não se sustenta. Em outra instância, o profissional ou a organização cuja integridade e intenções são inquestionáveis, mas não se mostram capacitados e deixam de apresentar bons resultados, também colocarão sua credibilidade em cheque por suas práticas não entregarem valor.
Pensar a credibilidade desta forma compartimentada nos ajuda a ter uma melhor noção de como atuar para preservá-la, pois fica mais claro perceber onde somos fortes e onde precisamos fazer maiores investimentos.
Há profissionais que possuem um excelente caráter (integridade e intenções) e que em razão disto são desejados pelas organizações, principalmente aquelas que ainda possuem uma gestão familiar. O caráter pode manter o profissional dentro da organização, mas, se não vier acompanhado de competência, não sustenta sua credibilidade perante a equipe. Isto gera conflitos e desmotivação.
Existem empresas que possuem sócios ou profissionais de alta competência (capacitações e resultados), contudo derrapam em quesitos de caráter (integridade e intenções), muitas vezes se auto iludindo de que a falha de caráter é abafada pelo valor dos seus resultados. Da mesma forma, em algum momento, o “pano cai” e o cenário começa a desabar.
Em minha jornada, observo algumas situações preocupantes: organizações implantando processos de gestão de pessoas – principalmente visando a motivação e o engajamento dos profissionais – onde as intenções são ótimas, contudo com efeitos pouco eficazes, quando a integridade dos gestores/sócios é questionada. Um mix composto por atitudes incoerentes e práticas organizacionais desalinhadas, que não mostram consistência de princípios, deixando as pessoas desnorteadas quanto ao rumo da empresa ou ainda valores organizacionais que não se concretizam nos comportamentos cotidianos. Investimentos financeiros desperdiçados com processos que não geram o efeito desejado, porque sua eficácia se contrapõe à credibilidade das lideranças e da organização perante os profissionais – e isto é ignorado (conscientemente ou não) pelos responsáveis.
Na verdade, trata-se de uma conduta comum entre nós, seres humanos: é mais confortável buscar soluções externas, do que assumir a responsabilidade por observar o efeito que nossa conduta causa no entorno.
Porém, no cenário organizacional não podemos perder a perspectiva de que, antes de profissionais, são seres humanos que reunimos em nossas instituições. E para seres humanos, a confiança é um ponto crucial para que o engajamento aconteça e que a motivação para o trabalho se fortaleça. Sem ela, qualquer ação externa tem um efeito meramente placebo – o resultado não é aquilo que aparenta.
Investir nos quatro componentes da credibilidade é fundamental e deveria ser a preocupação primária de todas as organizações e profissionais. Um assunto que deveria fazer parte da pauta de reuniões periodicamente e compor o quadro de competências organizacionais de qualquer instituição.
O mercado e a sociedade insistem bastante na lembrança da importância de se qualificar e entregar resultados, contudo pouco se trata do investimento em integridade e intenções. Talvez por isto, tantas pessoas ainda navegam no equívoco de que um bom currículo recheado de dados de competência seja suficiente para o sucesso profissional e organizações se iludem de que é possível conseguir resultados sustentáveis sem investir em caráter.
Quero finalizar este “recorte de superfície” que fiz deste vasto tema, trazendo uma metáfora apresentada por Covey. Imaginemos que a confiança é como uma conta bancária que abrimos diante das pessoas, onde fazemos saques e depósitos. Os saques correspondem às atitudes (ou ausência destas) que reduzem a percepção de confiança por parte de quem nos observa – ou à empresa. Os depósitos, àquilo que mantém e amplia a credibilidade externa.
Zelar pela credibilidade requer a mesma atenção que devemos ter para administrar uma conta bancária. Acompanhar o volume de saques e depósitos, garantindo que o volume de depósitos seja sempre maior que o de saques, para que esta conta se mantenha numa confortável posição positiva. Sabemos que uma conta onde os saques são maiores que os depósitos, é perigosa – e se tratando de credibilidade, quando esta situação acontece, não basta fazer um depósito equivalente aos saques para “fechar a conta”. Os depósitos precisarão ser feitos de maneira exponencial, para que a credibilidade seja resgatada e mesmo assim, não há garantias de que isto aconteça. Melhor então, investir cada vez mais em depósitos, para que, na eventualidade de um saque – porque afinal, somos seres humanos falíveis e os saques acontecerão – ele não abalar a confiança das pessoas de forma drástica. Nestes casos, compensar o saque torna-se mais fácil, pois a quantidade de créditos é suficiente para avalizar o débito tornando mais simples relevar uma “escorregada” eventual.
Garanto que vale o investimento! Até breve.
Márcia Fonseca
Psicóloga, Coach, Consultora e Docente na área de Gestão de Pessoas, atuando no segmento de serviços de saúde há mais de 20 anos.