Faz tempo que penso em escrever um artigo sobre Comunicação Não-Violenta, mas a inspiração não vinha, ou seja sobre o que escrever, o que abordar? Resolvi escrever uma série de quatro artigos, cada um direcionado a um dos componentes da CNV descritos por Marshall Rosenberg, explorando outros conhecimentos que possam contribuir para nosso entendimento e prática sobre cada um dos componentes.
Comunicação não violenta é uma metodologia para aperfeiçoar relacionamentos desenvolvida por Marshall Rosenberg, Ph.D. Psicologia Clínica Universidade de Madison-Wisconsin, que faleceu em fevereiro de 2015 com 80 anos. Para resumir a comunicação não violenta procura incentivar que venha à tona aquilo que existe de mais positivo em nós e que isso contribua para relações mais significativas e compassivas.
O primeiro dos componentes é a Observação sem avaliação ou julgamento, ou seja, olhar para as situações que vivemos de forma a separar o que observamos de nossos julgamentos. Isso pode fazer a diferença frente a situações de conflitos em que ao combinarmos observação e avaliação geramos automaticamente uma reação defensiva na outra parte envolvida, pois ela provavelmente vai sentir-se criticada.
“Ao nos relacionarmos com os outros, a empatia ocorre somente quando conseguimos nos livrar de todas as ideias preconcebidas e julgamentos a respeito deles.”
Marshall B. Rosenberg
Importante ressaltar que nossa capacidade de julgar e avaliar o mundo é uma qualidade humana extremamente importante, que pode contribuir para nossa segurança, portanto o que a CNV propõe não é parar de utilizar essa capacidade, mas sim ser capaz de separar os fatos concretos – aquilo que aconteceu e é visível a nossos olhos do que eu penso e acho sobre os fatos. Aprender a fazer essa separação e deixar os julgamentos em segundo plano sempre que situações desafiadoras que envolvam relacionamentos se apresentem é o desafio que a CNV nos convida a praticar.
Para ampliar esse conceito da CNV, vamos explorar um dos princípios da Programação Neurolinguística que diz que o Mapa não é o Território. Na Geografia, o mapa é a representação de um território e não o território em si. Fazendo uma analogia com a nossa visão do mundo, há uma diferença incontestável entre a realidade (realidade objetiva) e a experiência de realidade (realidade subjetiva). Cada um cria uma representação do mundo em que vive e apresenta comportamentos mediante esse modelo. A nossa visão da realidade, não é necessariamente verdadeira, ou seja, não é o território e sim uma representação dele – um mapa. Nossos mapas mentais do mundo não são o mundo. Reagir aos nossos mapas em vez de reagir diretamente ao mundo, acontece com frequência. O importante aqui é você perceber que nossas representações internas, ou seja, nossos “mapas pessoais”, estão longe de corresponderem 100% ao mundo externo.
Entendendo que cada pessoa possui o seu próprio mapa do mundo e que esse mapa é baseado em suas convicções sobre sua identidade, valores e crenças, fica mais fácil lidar com as diferenças de interpretação da realidade. Algumas vezes o mapa de uma pessoa opera de uma maneira que não faz sentido para você, mas com um pouco de entendimento sobre esse processo e alguma tolerância e flexibilidade para entender o ponto de vista alheio, essa visão diferente de mundo pode enriquecer sua vida e ampliar o seu mapa. Portanto, entender que cada pessoa envolvida em um conflito pode ter um mapa bem diferente de uma mesma situação, nos ajudar a abrir a mente para perceber o mapa mental do outro, sem julgamentos.
A forma como nos comunicamos está muitas vezes imbuída de palavras e expressões que acabam transmitindo avaliações e julgamentos, por exemplo quando fazemos comparações, damos conselhos, competimos pelo sofrimento, consolamos ou interrompemos. Todas essas formas de comunicação são fruto do nosso mapa do mundo e mostramos com elas, que ele é muito importante para nós e que não somos capazes de “guarda-lo atrás da porta” para realmente ter empatia pela outra pessoa.
A proposta da CNV é que possamos entender que nossa necessidade de julgar e criticar, não passa de uma expressão de nossas próprias necessidades e valores, ou seja da nossa visão de mundo, que não é melhor nem pior que a visão de mundo dos demais – pode ser apenas, diferente!
Que tal procurar observar mais e julgar menos? O desafio está lançado!
Até o segundo artigo da série, onde escreverei sobre o segundo componente da CNV: Sentimentos.
Leia o poema de Ruth Bebermeyer – Palavras são Janelas (ou são paredes)
Parabéns pela iniciativa, a analogia do mapa e território foi esclarecedora para mim.
Olá Carlos, que bacana que fez sentido para você! É bom ter a consciências de que existem vários mapas da realidade e com isso respeitar o mapa de cada um! Abrs e obrigada por comentar!