A tecnologia está mais que presente na vida de todos nós, facilitando o acesso à informação, a comunicação, a tomada de decisão, entre as vantagens mais óbvias e inegáveis que ela tem a oferecer.
Rapidamente os profissionais mais experientes se adaptaram aos tempos e recursos atuais; os mais jovens sequer imaginam a dinâmica do trabalho com o uso limitado de equipamentos, softwares e aplicativos para todos os fins.
O cotidiano está naturalmente tomado por redes sociais, mensagens instantâneas, ligações telefônicas com imagem, longas conversas ou reuniões de negócio por meio de plataformas gratuitas e acessíveis, conectando pessoas e empresas separadas por cidades, países ou continentes. A conectividade está definitivamente estabelecida e, a cada dia, mais desenvolvida e sofisticada.
Consequentemente, instalou-se em todas as atividades. Sem dúvida, chegaria ao Coaching. Em minha prática, isso aconteceu de forma mais intensa, há cerca de cinco anos, como forma de atender às demandas crescentes por soluções logísticas, seja em São Paulo – trânsito, horários de pico preferenciais para os clientes, tornando as distâncias ainda maiores, ou fora – outras cidades e Estados.
Experimentei, a princípio, uma certa resistência. Havia uma série de razões, válidas e pertinentes, para restringir o Coaching a distância, mesmo com o uso de tecnologia e equipamentos adequados.
A primeira delas é que o contato face a face, presencial, é essencial para estabelecer o rapport, criar vínculo de confiança, essenciais para a relação Coach / Coachee. Poderia ele ser substituído por uma imagem na tela do computador ou do celular?
Mais importante ainda, poderia um processo de Coaching ser conduzido a distância, dele sendo extraídos insights, análises, conclusões e decisões de mobilidade, com a mesma riqueza e profundidade que “ao vivo e a cores”?
Outra questão dizia respeito a como ter uma percepção mais apurada das mensagens corporais e emocionais do cliente, além das verbais. Afinal, a linguagem não verbal oferece um importante caminho de observação e reflexão, apoiando a formulação de hipóteses sobre o processo de Coaching e feedbacks para o Coachee.
Por fim, um aspecto de caráter prático referia-se a assegurar um estado de “presença”, interesse e real mobilização tanto do Coach quanto do Coachee durante toda a sessão, sem desvios de foco em função de outros estímulos da tecnologia ou do próprio ambiente.
Com essas questões em pauta e buscando alternativas para responder a elas de maneira assertiva e funcional, decidi experimentar para formular uma posição com conhecimento de causa. Após as primeiras sessões remotas, tive uma surpresa bastante positiva, tanto do resultado de sessões isoladas, quanto do processo como um todo.
Essa prática refletida e crítica conduziu à definição de cuidados e ao estabelecimento de condições chave para fazer frente às já citadas restrições ao Coaching à distância.
Basicamente, temos dois tipos de clientes: os que vêm por investimento próprio, assumindo os custos do processo, e aqueles que são alvo do investimento de suas empresas no desenvolvimento de suas competências, carreira, novos desafios e metas do negócio.
Para o primeiro grupo, a realização de sessões a distância, estando ou não na mesma cidade, permite a redução de custos de deslocamento e a negociação de valores mais acessíveis e adequados à sua condição financeira.
Pelo lado das empresas, especialmente aquelas de atuação nacional, esse formato do Coaching possibilita que executivos dispersos geograficamente pelo Brasil sejam atendidos pelo mesmo grupo profissional já qualificado pela matriz.
Seja qual for o caso, acredito que vale investir, tanto quanto possível, na realização de algumas sessões presenciais intercaladas com as sessões remotas, a depender, em especial, de um planejamento de datas convenientemente ajustadas para esse fim.
Em geral, empresas com operação nacional mantém uma agenda de viagens de seus executivos, o que permite a conciliação dos compromissos de negócio e as sessões de Coaching. No que diz respeito ao Coaching Executivo e Empresarial, recomendamos especialmente que as reuniões “de quatro pontas” sejam presenciais. Assim, a reunião inicial, intermediária e final entre Coachee, Coach, gestor imediato e RH são realizadas na cidade onde estiver o maior número dos envolvidos. As demais, entre Coach e Coachee serão presenciais ou remotas a depender da agenda acordada.
Em se tratando de clientes “pessoa física”, é igualmente recomendável serem criadas oportunidades de Coach e Coachee estarem frente a frente, aproveitando viagens de estudo ou mesmo lazer durante o processo.
Para as sessões remotas, há condições que funcionam como verdadeiros pré-requisitos, dos quais não se pode prescindir, em nome do sucesso e eficácia do processo:
Ou seja, no Coaching a distância vale basicamente o mesmo contrato e “combinados” do Coaching presencial.
Além destes, há ainda os “combinados” mais qualitativos que merecem uma atenção ainda mais especial, como o compromisso e participação ativa do Coachee durante todo o processo e dedicação exclusiva às sessões do início ao fim. São fatores menos tangíveis, mas poderão ser demonstrados e trabalhados durante o Coaching, como o interesse na autopercepção e autoconsciência, envolvimento nas discussões, realização das atividades propostas, evolução rumo aos objetivos de mobilidade perseguidos pelo Coachee.
Para ele e também para o Coach, a sessão remota embute a mesma exigência de foco total no processo, um estado descrito com precisão em “Presença” (2007), que envolve o contínuo desenvolvimento da capacidade de “olhar com novos olhos, indo além daquilo que nos é familiar; calar a voz do julgamento; construir espaços receptivos; abrir-se para o novo”.
Para o Coach, são práticas que se sustentam especialmente na atenção, trabalhando conexões que antes escapavam ao Coachee e apoiando o redirecionamento – uma capacidade de “ver sua própria marca nos problemas” trazidos para o processo de Coaching, seja ele presencial ou a distância.
Bibliografia
SENGE, P., SCHARMER, C.O., JAWORSKI, J. e FLOWERS, B.S. Presença – Propósito Humano e o Campo do Futuro. São Paulo, SP: Editora Pensamento- Cultrix, 2007.
Rosangela Bacima
Consultora e estrategista em Capital Humano e Capital Social das empresas.
Coach Executivo e Empresarial formada pela ABRACEM. Especialista em Coaching The Inner Game.
Psicóloga, Mestre em Administração de Recursos Humanos. Docente em cursos de Pós-Graduação e MBA.
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