Pela janela vejo a neve cair. O movimento é inconstante, leve, suave e hipnotizante. Alguns flocos mais densos que outros, mas todos são envolventes em seu fluxo, transmitindo tranquilidade e caindo sem direção, sem controle. A neve vai preenchendo os galhos nus das árvores, os gramados verdes e os transformando em campos brancos e singulares. É agora, é único, é mágico, é luz e claridade, é SER.
SER implica em estar presente, aceitar a realidade, viver os sentimentos e perceber o que toca, brilha, entristece, cresce e enobrece. É viver. Um dos fatores que nos traz para o momento presente, é ter consciência da finitude da vida, oferecendo a percepção do momento, ocupando-se dele e sua magia, assim como a neve que cai neste momento.
A vida é um todo e nos iludimos fragmentando-a em espaços de tempo que nos permite separar os eventos. Todo pensamento implica em uma perspectiva, e toda perspectiva, por sua natureza, implica em limitações, o que em último caso significa algo que não é totalmente verdadeiro. Deixe-me explicar: apenas o TODO é verdadeiro, mas o todo não pode ser pensado ou falado. Vai além da limitação da mente humana e, portanto, incompreensível. Tudo acontece agora. Uma ilustração que vi recentemente no livro The New Earth de Eckhart Tolle mostra a realidade relativa e absoluta, considerando o nascer do sol e o seu poente. Quando observamos o nascer do Sol e o anoitecer, isto é verdade mas ela é relativa. Somente através da perspectiva limitante de um observador é que se vê o “nascimento” e a “partida“ do Astro Rei.
Se você estivesse no espaço, observando a Terra como um todo, você perceberia que esta perspectiva não existe, o SOL sempre está lá, brilhando constantemente. Outro exemplo tocante é a noção de “minha vida”. Esta é outra perspectiva limitante criada pelo pensamento, outra verdade relativa. Não há algo como “sua “ vida, escreve Eckhart Tolle, quando você e a vida não são dois, e sim um. Você é vida!
Ver e, sobretudo, sentir em meu corpo as reações quando observo o cair da neve é vida e me acorda para o agora.
Como podemos levar o SER na vida de uma família dinâmica e ocupada no dia a dia? Nas relações com os filhos, por exemplo?
A “chave” é dar atenção. Segundo o autor, há duas formas de atenção. Uma delas é baseada na forma e a outra na falta da própria forma. A atenção baseada na forma está sempre conectada ao que é feito e avaliado: “Você fez a lição de casa? Arrumou o quarto? Escovou os dentes? Faça isto, pare de fazer aquilo. Apronte-se!” A atenção baseada na forma é necessária e tem o seu lugar, mas se a relação com seu filho é somente baseada na forma, então a forma mais vital estará faltando e o SER fica completamente suprimido pelo FAZER.
Quando você olha, escuta, toca, ajuda o seu filho, você está em alerta, calmo e, sobretudo, presente, querendo apenas viver o momento como ele é. Assim, você dá espaço para o SER. Se você está presente, você não é o pai ou a mãe, você é o alerta, a calma e a presença que está escutando, olhando, tocando e falando. Você é o SER sobrepondo o FAZER.
Que o cair da neve continue a trazer o meu “cair” no momento presente, aceitando-o como ele é, vivendo sua luz, clareza, infinito, falta de forma e controle, apenas SENDO e VIVENDO.
Querido leitor, o convido a acordar para o seu SER em suas ações quotidianas, oferecendo a oportunidade a si mesmo de viver o Agora!
Ótima semana e até sexta,
Deixe um comentário