Para dar continuidade a série de artigos sobre Comunicação Não Violenta, esse quarto artigo tem como objetivo abordar o componente da CNV: Pedidos – como pedir o que precisamos.
A CNV permite que expressemos aquilo que temos de melhor em nós e que possibilitemos que o amor, o respeito, a compaixão e a gratidão se mostrem em nossa comunicação. Isso contribui para que nossa relação com os outros se modifique, pois passamos a nos expressar e ouvir os demais de forma mais consciente e firmemente baseados no que percebemos, sentimos e precisamos.
Com o primeiro componente da CNV, aprendemos a diminuir o hábito de julgar e avaliar, ou pelo menos deixar esse comportamento não assumir o controle de nossas relações. Se frente a situações difíceis nos relacionamentos priorizarmos a observação do que está acontecendo ao invés de julgarmos, termos mais chance de estabelecer conexão. Leia o primeiro artigo dessa série para saber mais sobre isso.
Já o segundo componente da CNV nos direciona a dar atenção aos nossos sentimentos, coisa para a qual não fomos educados. Identificar o que sentimentos em cada situação, nos ajuda a compreender melhor nosso mundo interior, para que possamos lidar melhor conosco e com as pessoas ao nosso redor. Leia o segundo artigo dessa série para saber mais.
Nossos sentimentos são reflexo de nossas necessidades atendidas ou não. Sentimentos positivos têm, por trás, necessidades atendidas e sentimentos negativos, o contrário. Identificar nossas necessidades é o terceiro componente da CNV que contribui para que tenhamos uma vida mais plena daquilo que precisamos. Leia o artigo anterior, que fala mais sobre isso.
Quando a frustração toma conta e já observamos os fatos, e identificamos nossos sentimentos e necessidades, uma boa iniciativa é pedir o que precisamos. Fazer pedidos é o quarto componente da CNV.
Para pedir o que precisamos é importante que tenhamos clareza de quais são nossas necessidades e que comuniquemos esse pedido de maneira clara e direta. Podemos identificar várias forma de atender nossas necessidades por meio de um brainstorning, mas depois de escolher a que melhor nos atende, formulamos o pedido por meio de uma linguagem positiva, clara e objetiva. Uma linguagem vaga favorece a os maus entendidos e a confusão.
A Programação Neurolinguistica nos esclarece que temos uma estrutura profunda e uma estrutura superficial de pensamento e que, ao nos comunicarmos, podemos muitas vezes tomar o que é dito como parte da estrutura profunda, quando na realidade o que chega à superfície muitas vezes passou por um processo de generalização, omissão e distorção, baseado em nossas crenças e visão de mundo. John Grinder e Richard Bandler desenvolveram o metamodelo de linguagem observando dois terapeutas de sucesso, Fritz Perls e Virginia Satir, que tinham bons resultados em fazer seus clientes serem específicos em sua comunicação. Esse conhecimento pode ser útil para nos apoiar na construção de pedidos que sejam claros e que estejam baseados em nossa estrutura profunda de pensamento.
Para nos livrarmos das generalizações, omissões e distorções na hora de fazer pedidos, podemos nos fazer uma série de perguntas para trazer à tona as informações completas e tornar nosso pedido o mais inteligível possível. Essa metodologia também pode nos ajudar ao recebermos pedidos de outras pessoas, para que possamos entender suas reais necessidades e o que querem que façamos.
Exemplos de perguntas do metamodelo de linguagem:
OMISSÕES
Pedido: Quer parar de provocar?
Provocar como?
Pedido: Pode me ajudar a fazer com que eles me escutem?
Eles quem?
Escutem como, especificamente?
Pedido: Você poderia se vestir melhor?
Comparado a que ou a quem?
Para que ocasião?
Pedido: Poderia se comunicar melhor?
Como exatamente gostaria que fosse a comunicação?
Melhor comparado a que?
GENERALIZAÇÕES
Pedido: Você nunca me dá atenção, poderia ser mais gentil?
Nunca?
Já houve alguma situação em que eu te dei atenção e fui gentil?
DISTORÇÕES
Pedido: Poderia começar a demonstrar que domina esse assunto?
O que o leva a acreditar que eu não domino o assunto?
Como é que eu não demonstro que conheço o assunto?
O metamodelo pode ser uma ferramenta útil para desenvolvermos maior clareza em nossa comunicação, no entanto demanda prática para dominar o processo de questionamento. Na CNV o metamodelo pode contribuir no processo de comunicação como um todo e não somente no componente – Pedidos, como demonstramos aqui.
Ao ter nossa atenção direcionada para os quatro componentes da CNV, acabamos estabelecendo um fluxo de comunicação que deve se desenrolar naturalmente no que estamos observando, sentindo, necessitando e pedindo, para ter uma vida mais rica e plena. Focar os 4 componentes é uma forma didática para nos apoiar na reformulação de nossa comunicação, para uma forma mais empática conosco e com os demais, mas não precisamos nos prender a esse modelo – passo-a-passo – e sim ter em mente que a compaixão e a empatia vão contribuir para que nossas relações sejam mais amorosas, independente da estrutura de frases que utilizarmos.
Abraços.
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