Motivação – histórico
Segundo Daniel H. Pink em seu livro Motivação 3.0, de acordo com a evolução das sociedades as bases que justificam nossos comportamentos se alteram de acordo com as crenças, conjecturas e protocolos que explicam como o mundo funciona.
Ainda segundo esse autor, nos primeiros tempos da existência da humanidade, nosso comportamento se direcionava apenas para garantir a sobrevivência, buscando alimento e procurando esconderijos – esse tipo de impulso foi batizado de Motivação 1.0.
Conforme fomos evoluindo e criando sociedades mais complexas onde a necessidade de cooperar para evitar conflitos para conseguir o que precisava, apenas o impulso biológico não bastava. Controlar os impulsos passou a ser necessário para evitar perdas. Surgiu nessa etapa um segundo impulso de buscar recompensas e evitar punições – a Motivação 2.0.
A complexidade do mundo continuou a aumentar e a Motivação 2.0 já não era suficiente para explicar o comportamento humano. Como explicar o envolvimento de programadores do mundo todo contribuindo para o desenvolvimento de um novo software, sem ganhar nada por isso a não ser um conjunto de motivos intrínsecos.
Esses dois modelos que explicam nossa motivação para agir, estão baseadas em motivadores extrínsecos, que nem sempre funcionam. Falta alguma coisa para dar conta de explicar como nos comportamos – no mundo atual pessoas abandonam empregos muito bem remunerados por outro com ganhos menores, por exemplo. Vemos aí uma estrutura motivacional mais elaborada.
Motivação nos dias atuais
Hoje em dia, ainda convivemos com os tipos de motivação 1.0 e 2.0, nas situações onde elas ainda funcionam:
Motivação 1.0 – em situações onde nossos instintos básicos não estão sendo atendidos, passamos a agir para garanti-los.
Motivação 2.0 – aqui agimos para buscar recompensas externas e evitar punições. Por exemplo, um gestor pode oferecer uma recompensa externa para a realização de atividades rotineiras, contudo ainda assim deve apresentar o objetivo da tarefa, reconhecer que ela é maçante e permitir que seja realizada da forma que o funcionário quiser.
Frente a projetos criativos, as recompensas externas podem mais atrapalhar do que ajudar. Segundo estudos elas acabam embotando uma visão mais ampla e “fora da caixa” sobre o problema e sua solução.
Motivação 3.0
A motivação é um processo que disponibiliza energia, mantém e orienta o comportamento das pessoas para um objetivo. Um estado de deficiência ou uma necessidade é que provoca nosso comportamento. Nem sempre recompensas externas são suficientes para nos mover. A motivação 3.0 têm como ingredientes a autonomia, a excelência e o propósito.
Recompensas ou punições externas, em algumas situações, podem na verdade gerar mais daquilo que não queremos, incentivando a visão de curto prazo.
Já quando temos uma tarefa complexa e mais conceitual, o oferecimento de recompensa externa, limita o pensamento livre que pode permitir uma solução inovadora.
Michael Gazzaniga, em seu livro Ciências e Psicologia, classifica esse tipo de motivação como Teoria da Autodeterminação – “as recompensas extrínsecas podem reduzir o valor intrínseco, porque minam a sensação das pessoas de que estão optando por fazer algo para si próprias. Em contraste, os sentimentos de autonomia e competência fazem com que as pessoas se sintam bem consigo mesmas e as inspiram a fazer seu trabalho mais criativo.” Bons objetivos motivam as pessoas a trabalhar com empenho.
Sistema de recompensa do cérebro
O sistema de recompensa do cérebro é arcaico e tem como função garantir nossa sobrevivência, é uma circuitaria neuronal relacionada a sensação de satisfação e prazer. Buscar o prazer é o que nos faz levantar da cama todos os dias. A questão é que nem tudo que nos proporciona prazer é favorável à nossa sobrevivência, algumas coisas podem até nos prejudicar. Para que possamos fazer boas escolhas o córtex pré-frontal, que também faz parte do sistema de recompensa precisa ser acionado. Segundo Elkhonon Goldberg no livro O Cérebro Executivo, o córtex pré-frontal é responsável para a formulação de metas e objetivos, nos faz seguir um planejamento e coordena as habilidades cognitivas requeridas, além de avaliar o sucesso ou fracasso de nossas ações.
Basicamente quando temos uma experiência prazerosa o cérebro produz e libera dopamina, neurotransmissor que ativa o sistema de recompensa. Esse neurotransmissor percorre outras áreas do cérebro até chegar no córtex pré-frontal, sendo que ele vai decidir se você já está satisfeito ou vai continuar a buscar mais prazer. Se determinado comportamento proporcionou prazer, isso fica registrado como algo que deve se repetir. É seu córtex pré-frontal que deve fazer a regulação mais racional sobre se você deve ou não repetir o comportamento. Ocorre aí um tipo de disputa entre a razão e a emoção, para decidir se o comportamento será repetido. Caso a emoção vença e o comportamento em busca do prazer seja repetido muitas vezes, será cada vez mais difícil resistir a ele. Para interromper esse ciclo é mais fácil buscar outro comportamento mais saudável, para colocar lado a lado com o primeiro, do que tentar extinguir o primeiro.
Conclusão
Nossos comportamentos podem ser motivados de várias formas, para atender diferentes necessidades e o sistemas de recompensa do cérebro é que regula como vamos agir para atingir os objetivos que estipulamos para nossa vida.
Importante termos em mente que as recompensas e punições externas podem provocar os seguintes inconvenientes, segundo Daniel Pink:
• Extinguir a motivação intrínseca
• Prejudicar o desempenho;
• Embotar a criatividade;
• Estimular os atalhos e comportamentos antiéticos;
• Tornam-se viciantes;
• Alimentam raciocínio de curto prazo.
Por outro lado, a motivação intrínseca pode ser incentivada, por um ambiente acolhedor e saudável, com remuneração justa que estimule a autonomia, a excelência e propósito.
Referências:
Pink h. Daniel – Motivação 3.0 – Rio de Janeiro – 2010 – Editora Campus
Goldberg Elkhonon – O cérebro executivo – Rio de Janeiro – 2002 – Editora Imago
Gazzaniga Michael – Ciência Psicologia – Porto Alegre – 2018
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