O Coaching executivo e empresarial se dá por meio de um processo de comunicação entre duas pessoas – Coach e Coachee – e que leva em conta um contexto empresarial. Além da dupla principal outros Stakeholders também fazem parte desse processo: representante do RH e Gestor do Coachee.
Segundo Rosa Krausz, no livro Reflexões sobre Coaching Executivo e Empresarial – o Coaching executivo e empresarial “trata-se de uma relação entre o Coach e seu cliente, que ocupa uma posição de liderança numa estrutura organizacional”. Para que esse processo se torne viável e bem-sucedido um tipo especial de comunicação deve ser estabelecido entre esse dueto. Ainda segundo Rosa Krausz, “esse processo cria um espaço na agenda do executivo para dialogar a respeito de questões que, embora relevantes, tendem a não ser ventiladas entre colegas de trabalho”.
Quando o assunto é comunicação, comumente damos mais atenção ao falar e ao como falar e deixamos em segundo plano o ouvir, que tem papel fundamental para a comunicação, especialmente durante um processo de Coaching Executivo e Empresarial. Ouvir o Coachee em profundidade significa entender como ele vê o mundo, o que ele sente e necessita em relação aos objetivos e contexto que estão sendo tratados durante o processo.
Qualidade da escuta
Com base na Teoria U, podemos identificar quatro níveis de escuta, que tem impacto diferente, na possibilidade de o Coach Executivo contribuir para o desenvolvimento do Coachee:
Downloading ou Recuperação: modo de ouvir no qual suposições, crenças e julgamentos são usados como base de comparação para entender os demais. Aqui um viés inconsciente do passado, busca confirmar ideias ultrapassadas e velhos modos de ver o mundo. Neste nível de escuta nossa abertura para o outro é praticamente nula.
Escuta factual: uma visão crítica e alerta às contradições nas informações recebidas dos outros, proporciona o questionamento das crenças prévias, gerando novas informações e visões. É voltada ao presente, com a mente racional, baseada em fatos, mas sem levar em conta aspectos emocionais e motivacionais em consideração.
Escuta empática: completamente voltada ao presente, esse nível de escuta inclui a mente racional e a emocional, ambas abertas e focadas no outro. Esse tipo de escuta apresenta grande potencial libertador, pois permite que tanto quem escuta como quem é ouvido respeite seus sentimentos e necessidades. Abaixo apresento uma citação do psicólogo Carl Rogers, escreve em seu livro A pessoa Como Centro:
“Quando … alguém realmente o escuta sem julgá-lo, sem tentar assumir a responsabilidade por você, sem tentar moldá-lo, é muito bom. Quando sinto que fui ouvido e escutado, consigo perceber meu mundo de uma maneira nova e ir em frente. É espantoso como problemas que parecem insolúveis se tornam solúveis quando alguém escuta. Como confusões que parecem irremediáveis viram riachos relativamente claros correndo, quando se é escutado.”
Escuta gerativa: tipo de escuta direcionado ao futuro, pressupõe uma criação a partir de um encadeamento de co-criação. Nesse tipo de escuta a mente racional, o coração e a vontade estão conectados com as novas possibilidades que estão emergindo.
Excluindo o primeiro nível de escuta descrito acima, os demais podem ser utilizados de forma consciente pelo Coach – em momentos diferentes das sessões ou do processo de Coaching, trazendo benefícios.
Tipos de escuta | Momentos |
Factual | Quando é preciso especificar o que o Coachee realmente quer dizer. |
Empática | Quando o coachee precisa ser aceito e respeitado. |
Gerativa | Na elaboração de planejamento e planos de ação. |
Ouvir em profundidade e com presença, permite que o Coach Executivo faça uso do principal recurso que tem disponível para apoiá-lo em sua atuação profissional, que é a escuta ativa. É com base nela que poderá atuar no encaminhamento do processo de Coaching fazendo para isso intervenções adequadas, que permitam ao Coachee refletir, ampliar possibilidades e identificar novos caminhos para seus desafios.
Contribuições para a conversa de Coaching
Comunicação Assertiva
Ser assertivo é mais do que uma maneira de agir, é uma filosofia de vida, onde nos comunicamos de forma direta dizendo o que é necessário à pessoa certa e no momento correto. Assim geramos credibilidade e evitamos a passividade ou a agressividade diante de situações desafiadoras. O Coach deve usar esse tipo de comunicação para oferecer feedback ao seu Coachee. A comunicação direta é uma das competências importantes em que o Coach pode se desenvolver.
Leia mais no artigo: Comunicação Assertiva – A arte de se comunicar
Comunicação Não-Violenta – Marshall B. Rosenberg
Comunicação não-violenta é uma metodologia para aperfeiçoar relacionamentos desenvolvida por Marshall Rosenberg, Ph.D. Psicologia Clínica Universidade de Madison-Wisconsin, que faleceu em fevereiro de 2015 com 80 anos. Para resumir, a comunicação não-violenta procura incentivar que venha à tona aquilo que existe de mais positivo em nós e que isso contribua para relações mais significativas e compassivas.
Componentes da comunicação não-violenta:
O primeiro dos componentes é a Observação sem avaliação ou julgamento, ou seja, olhar para as situações que vivemos de forma a separar o que observamos de nossos julgamentos.
O segundo componente é Identificar nossos Sentimentos e os da outra pessoa que se comunica conosco. Em geral temos dificuldade para expressar e dar nome aos nossos sentimentos. Isso se dá em função de não termos sido educados para isso. Quem dirá estar atento aos sentimentos dos demais.
Todos os nossos sentimentos estão de alguma forma representando necessidades atendidas ou não. Ou seja, sentimentos “positivos” representam necessidades atendidas e os “negativos” demonstram que estamos precisando de algo. As necessidades humanas são universais, e identificar do que estamos precisando e apoiar seu Coachee a perceber do que precisa em cada situação representa o 3º componente da CNV.
Fazer pedidos é o quarto componente da CNV. Para pedir o que precisamos é importante que tenhamos clareza de quais são nossas necessidades e que comuniquemos esse pedido de maneira clara e direta. Uma linguagem vaga favorece mal-entendidos e a confusão.
O Coach que se desenvolve no sentido de ter uma comunicação mais compassiva, não julgando, identificando seus sentimentos e necessidades, poderá contribuir para que o seu Coachee possa fazer o mesmo em seus relacionamentos. Além disso a comunicação durante o processo de Coaching será mais aberta e menos defensiva.
Leia mais na seria de 4 artigos sobre CNV
1º artigo: https://qdc.yaraleal.com.br/2017/10/16/observar-sem-julgar-serie-de-artigos-sobre-cnv-artigo-1/
2º artigo: https://qdc.yaraleal.com.br/2017/11/06/identificando-entimentos-serie-de-artigos-sobre-cnv-artigo-2/
O Dialogo – David Bohm
Segundo David Bohm um diálogo é diferente de uma discussão pois ninguém está tentando ganhar. Há uma espécie de jogo diferente quando se dialoga. Trata-se de um jogo onde não há tentativas de ganhar pontos ou de fazer prevalecer um lado. Ao invés disso, sempre que um erro é descoberto por parte de alguém, todo mundo sente ter ganho. É um jogo chamado ganha- ganha, enquanto que o outro jogo é chamado ganha – perde. No diálogo não estamos jogando uns contra os outros, mas, todos com todos.”
Em um diálogo, segundo a visão de Bohm, acontece um fluir de significados que permite a criação de algo novo e criativo que não estava disponível quando se iniciou a conversa. Para que isso aconteça é preciso que os envolvidos suspendam as suas pressuposições e preconceitos, pois sem isso um diálogo não é possível.
Muitas vezes não é a realidade objetiva, que limita ou favorece as pessoas, mas sim as escolhas percebidas como disponíveis a partir de seus próprios modelos de mundo. Não existe um “mapa mais verdadeiro que outro – ninguém possui o mapa correto”.
Durante um processo de Coaching o Coach deve deixar o seu mapa “atrás da porta”, para poder entender a visão de mundo de seu cliente e apoiá-lo na ampliação da sua visão da realidade, uma vez que os mapas mais efetivos são aqueles que oferecem mais possibilidades de escolhas.
Conversação genuína – Martin Buber
“O propósito do diálogo segundo Buber é suspender as opiniões e observá-las – ouvir os pontos de vista de todos, suspendê-los e a seguir perceber o que tudo isso significa. […] Poderemos simplesmente compartilhar a apreciação dos resultados: e dessa totalidade a verdade emerge sem se anunciar, sem que a tenhamos escolhido” (Bohm, 2005, p. 65).
A conversação genuína pode acontecer quanto existe a aceitação do outro e de si mesmo. No pensamento de Buber a existência do homem é fruto do diálogo, do encontro e da seara do inter-humano.
Segundo Buber “Uma conversação verdadeira acontece quando duas pessoas se abrem uma a outra para um encontro autêntico, sem colocar resistência entre elas.”
É na relação que o homem se conhece, sendo o processo de Coaching uma relação especial onde um diálogo se estabelece e contribui para a ampliação do autoconhecimento e para a construção de novas realidades.
O processo de questionamento efetivo
O Coach que busca desenvolver-se para ser o principal instrumento do processo de Coaching, comunicar-se sem julgamento, escutar de forma ativa, estabelecer Rapport, ser capaz de silenciar a mente e estar presente, estará preparado para conduzir um processo e que abra possibilidades para seu cliente.
A principal intervenção do Coach são as perguntas, que constituem um processo de questionamento amplo que contribui para ampliar a reflexão e consequentemente a visão do Coachee. Para que esse sistema de questionamento aconteça o Coach precisa buscar constante a evolução, desenvolvendo-se como comunicador, levando em conta as abordagens descritas acima.
Ampliando sua capacidade para ouvir, identificar sentimentos e necessidades, ser assertivo e dialogar, o Coach terá a prontidão necessária para questionar de forma a provocar mudanças.
Boas perguntas favorecem o fluxo de questionamento efetivo que leva a um lugar gerativo e fecundo que pode nos fazer pensar em outro nível e instigar insights que provoquem acesso a novas possibilidade.
Tudo isso é comunicação pura e comunicação é vida, por isso vale a pena o investimento do Coach em sua constante evolução na forma de comunicar-se!
Referencias:
Reflexões sobre Coaching Executivo e Empresarial – Rosa Krausz – 2017 – Scortecci Editora
Teoria U – Como Liderar pela percepção e realização do futuro emergente- C. Otto Scharmer – 2009 – Editora Campus
Comunicação não-violenta – Marshall B. Rosenberg – 2006 – Editora Ágora
Transcrição de encontro sobre dialogo acorrido 06 de novembro de 1989 na cidade de Ojai próxima a Ventura ao Norte de Los Angeles. A transcrição inglesa editada, foi corrigida e aprovada pelo Dr. Bohm.
Do Diálogo e do Dialógico – Martin Buber -2017 – Editora Perspectiva
Coaching Passo a Passo – Trilogia – A Arte e a Ciências do Coaching – Marilyn Atkinson e Rae T. Chois – 2010 – Perse Editora
Artigo publicado originalmente na revista de Coaching Brasil
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