Contexto
O mundo pós-moderno traz grandes desafios para a nossa vida, uma vez que nada do que acreditamos até pouco tempo, pode ser considerado como certo e incontestável.
Segundo o Professor Juremir Machado, pós modernidade pode ser descrita como o momento em que todas as grandes narrativas entram em crise. Ou seja, as explicações sobre o mundo, vigentes estão sendo questionadas. Como é nesse mundo em que vivemos e precisamos tomar cada vez mais decisões, isso pode se tornar um grande desafio.
Entender como nosso cérebro funciona frente ao processo de tomada de decisões pode contribuir para ampliar nossa visão e grau de consciência ao fazer escolhas.
Área do cérebro envolvida na tomada de decisões
O córtex pré-frontal é a evolução mais recente do sistema nervoso e se desenvolveu apenas nos seres humanos. Essa estrutura é fundamental para o comportamento proposital, dirigido a objetivos, com a possibilidade de planejamento, organização, julgamento de consequências e monitoramento da evolução rumo às metas.
O córtex pré-frontal é basicamente responsável pelo que chamamos de funções executiva (FE), que são atividades cognitivas responsáveis pelo planejamento e direcionamento do comportamento, são elas:
Atenção – capacidade de manter a concentração;
Flexibilidade cognitiva – capacidade para mudar comportamento diante de obstáculos – mudança de perspectiva;
Controle inibitório – capacidade para inibir de comportamentos ou rotinas automáticas;
Memória operacional – capacidade de manter as informações na mente, permitindo a sua utilização durante a execução de uma tarefa;
Planejamento – capacidade para elaborar planos para alcançar objetivos;
Resolução de problemas – capacidade para especificar, compreender e solucionar problemas;
Tomada de decisões – capacidade para analisar e escolher alternativas buscando a maximização de ganhos.
Os dois sistemas de funcionamento do cérebro
Segundo Daniel Kahneman nosso cérebro possui duas formas de pensamento, o Sistema 1, que opera de forma rápida e automática e o Sistema 2 que funciona alocando atenção, concentração e atividades mentais mais trabalhosas. O pensamento originado do Sistema 1 acontece sem esforço e rapidamente, pois está baseado nas impressões que são fontes das crenças e de nosso conhecimento e experiências acumulados. Já Sistema 2 é mais lento pois é acionado frente a situações que exijam alocação de atenção deliberada e isso provoca mais investimento de recursos do cérebro. E o Sistema 2 é acionado quando detecta um acontecimento que contradiz o modelo de mundo estruturado pelo Sistema 1.
Abaixo alguns exemplos das atividades dos dois sistemas, contidos no Livro Rápido e Devagar do Kahneman:
Sistema 1
Sistema 2
Quando tudo está tranquilo, o que ocorre é que na maior parte do tempo o Sistema 2 aceita as sugestões do Sistema 1 e dá tudo certo. Contudo frente a situações mais complexas acatar as sugestões do Sistema 1 pode direcionar ao erro.
Processo decisório
O processo de tomar decisões é algo com o qual convivemos em nosso dia-a-dia. Somos expostos a situações desde as mais simples até as mais complexas e muitas vezes precisamos decidir que caminho escolher frente a várias alternativas possíveis.
Algumas etapas fazem parte do processo decisório:
Identificação do problema – o que está acontecendo e que precisa mudar?
Diagnóstico – Quais são as ameaças e oportunidades envolvidas na situação? Que dados e informações precisamos coletar?
Geração de alternativas – Quais são as possíveis soluções para o problema?
Escolha da solução – Qual é a melhor alternativa, que traga mais benefícios e menos custos?
Avaliação e acompanhamento – A solução escolhida está resolvendo o problema? Como o processo de solução está caminhando?
Tomar decisões de forma intuitiva sem um processo consciente que passe pelo cumprimento das etapas identificadas acima pode se mostrar prejudicial para os envolvidos.
Como tudo se conecta
Vivemos em um mundo complexo, que nos coloca frente a muitos conflitos de interesse, opções de escolha e contradições, isso faz com que tomar decisões seja algo desafiador e que exige empenho e analise.
Nós humanos possuímos um cérebro privilegiado, que comporta uma área (córtex pré-frontal), que por meio das funções executivas nos permite planejar, analisar, organizar e tomar decisões, com base nisso. Nossa tomada de decisão é processada pelo cérebro, contudo é o resultado do que somos como um todo, ou seja nossa personalidade, competências desenvolvidas e visão de mundo, também tem papel importante nesse processo.
Entender que temos duas formas de pensar:
Uma é automática, rápida e sustentada por experiências, crenças prévias e que para situações repetitivas e simples em geral acerta.
Uma que é mais analítica, lenta que deve ser envolvida em situações novas e importantes, pois comete menos erros.
Esse entendimento mostra que precisamos aprender a reconhecer situações em que podemos nos enganar e existe muita coisa em jogo, para nos esforçar acessando a forma de pensar do Sistema 2.
Seguir as etapas do processo de tomada de decisão é uma forma de colocar o Sistema 2 em ação, pois esse passo a passo faz com que informações sejam levantadas, analisadas, selecionadas, embasando o processo de escolha.
O autoconhecimento é nossa arma para agirmos de forma autorregulada, adquirindo autonomia e uma ação consciente e responsável.
Bibliografia
Kahneman, Daniel – Rápido e Devagar- Objetiva- 2012
Goldberg, Elkhonon – O cérebro Executivo – Imago – 2002
Deixe um comentário