:: Psicóloga (UNIP – CRP 06/24888-4)
:: Pós Graduada em Marketing (ESPM – Jul 1989)
:: Mestre Psicologia do Esporte (U.A.de Madri e Comitê Olímpico Espanhol – Reg.27472)
:: Especializada em Terapia Cognitiva (ITC – CFP 013/07)
:: Coach com Certificação Internacional (SBC e Lambent – ICC 4289)
:: Trabalhou com os melhores Clubes e Seleção Brasileira de Futebol
:: Participou da Elaboração Proposta Olímpica Rio 2016 (COB – 2009)
:: Fundadora da Academia Emocional (1991)
:: Palestras, Workshop’s e Cursos (mais de 70 mil pessoas)
:: Autora do Livro Competência Emocional – (Editora Gente)
QC: Recentemente vem se manifestando um aumento na demanda de contratação de coaching no esporte. Em sua opinião as pessoas estão contratando um coach ou um psicólogo?
SF: A psicologia é metodologia é mais antiga que o coaching na estrutura de aplicação. Então inicialmente se contrata psicólogo, até porque o coaching é um método, ele não vai resolver outras questões relacionadas a comportamento de transtorno. Por exemplo, um atleta que está em recuperação de lesão ou um atleta que perdeu uma competição. Ali não cabe o coaching, cabe sim um apoio psicológico, é outro protocolo. Então o psicólogo é a primeira pessoa a ser apresentada na comissão interdisciplinar. Para trabalhar o atleta como um todo, você trabalha o aspecto fisiológico, clínico, medicina do esporte, fisioterapia, a psicologia, a parte técnica e tática, a parte social e econômica, a nutricional, então veja que é um conjunto interdisciplinar de profissionais. Quem representa o comportamento humano e o coaching está dentro do comportamento, é a psicologia, a ciência da psicologia. Quem é o responsável por representar essa ciência é o psicólogo. Dentro da ciência do comportamento humano, que é a psicologia, para você entender e mudar comportamentos, você tem que entender os fundamentos psicológicos, existem alguns métodos terapêuticos que não são os mais indicados para se utilizar dentro de uma Olimpíada, é fora da Olimpíada. O método coaching. Então o ideal é que fosse um psicólogo que tivesse domínio do método coaching, que é um ponto diante da dimensão da ciência da psicologia, mas que faz a diferença. Agora, se você não tem um psicólogo, mas tem alguém que domina essa metodologia, isso é uma possibilidade. Se você tem um psicólogo que não domina, é complicado. Dentro da ciência da psicologia temos vários modelos: o psicanalítico não funciona para performance, seja esportiva ou empresarial, até porque ele é associativo, você espera que a pessoa tenha insights, e o esporte é rápido. Temos o modelo comportamental de estímulo e resposta e temos também o cognitivo comportamental, esse sim funciona! Se você tem um psicólogo formado no modelo cognitivo comportamental e que domina coaching, que é o meu caso, faz um belo trabalho. E não sou eu que estou falando, isso é validado pela nossa bíblia da psicologia do esporte, o livro Fundamentos da Psicologia do Esporte e Exercício (Robert S. Weinberg & Daniel Gould).
QC: E na prática, qual a área de atuação de cada um? Quando o psicólogo pode perceber o momento de usar o coaching?
SF: Uma coisa é o ideal, e eu só tive essa experiência uma vez na minha carreira inteira! Outra coisa é a real, o que existe. O ideal é desde a pré-temporada, ou do início de um planejamento olímpico, a comissão interdisciplinar avalie as condições atuais físicas, nutricionais, psicológicas. O problema é que não existe isso e o psicólogo entra na intervenção de crise: depois que perdeu, lesionou ou numa condição desfavorável. Em porcentagem, 80-90% das minhas intervenções são em momento de crise. E usamos outro protocolo, não dá mais para usar o coaching puro, temos que atuar coaching e psicologia. Às vezes não dá nem tempo! Exemplo prático, fui contratada por um clube de futebol a seis rodadas que antecediam a final do campeonato, seis semanas de trabalho. Se fosse fazer o coaching tradicional não daria certo, fizemos coaching coletivo com intervenções individuais com atletas que estavam lesionados, mas que entrariam para jogar nas finais. Paralelamente tivemos que ir trabalhando no individual a capacidade de enfrentamento e acompanhando o emocional dos atletas. Exigem-se outras competências que não apenas a metodologia coaching, mas ela faz a diferença. Se eu pudesse escolher, trabalharia apenas com o método coaching, mas ele aliado aos fundamentos da psicologia é muito poderoso. Uma coisa muito importante é trabalhar as emoções e nem todo coach tem esse conhecimento, e precisa porque é combustível para ação e coaching é ação! E na minha opinião um coach que não tem esse preparo não pode trabalhar numa comissão interdisciplinar que se propõem a mudança de comportamento. Ele pode estar dentro da equipe, coordenado por um psicólogo que domina essa metodologia. E não é discriminar, é competência, é formação. São seres humanos, podem surtar e aí o que você vai fazer com isso? Já aconteceu comigo! Uma moça entrou em crise de pânico durante uma sessão de coaching! Se o coach não tem o preparo, o que faz? Entra em crise também! Nós, que somos treinados, já entramos em um nível de estresse alto! E depois disso foram três dias de apoio e intervenção diretos, porque você está responsável por aquela pessoa! Depois podem pensar que você provocou esse estado! Temos que agir com muita consciência e responsabilidade, pois estamos mexendo com a cabeça das pessoas. Ah, tem que saber até onde é coaching e até onde é psicologia. Você e seu cliente estão numa dinâmica! Ele não vai dizer: agora não vou sentir raiva nem medo porque estou fazendo coaching. Não tem isso. E numa competição você está lá nessa dinâmica.
QC: Quais seriam os motivos que fazem as equipes, delegações ou atletas buscarem o coaching ou a psicologia?
SF: O principal: resultado! Infelizmente, eles precisam perder primeiro e chegar à conclusão de que perderam por aspectos psicológicos, comportamentais, para poder tomar uma ação. Mas é um ponto de partida. O que está acontecendo? Inicialmente eram contratados psicólogos, que hoje tem a formação coaching, para suprir essa necessidade. Porém, querendo que o psicólogo seja o responsável pelos resultados que virão! Isso é uma ilusão, porque ele é apenas um dos membros da comissão interdisciplinar. Mas ele tem o seu papel, não menos importante, que a soma do papel de cada disciplina. Antes não tinha psicólogo, então vamos colocar o psicólogo que agora ganhamos tudo. Não ganha. Ganhando ou perdendo tem que ter psicólogo, nutricionista, preparador físico, ganhando ou perdendo tem que ter técnico. O psicólogo é mais um elo dos fatores que podem ser controlados, como o técnico e tático. Mas e a qualidade do adversário? Você não tem como controlar e tem muitas vezes um adversário mais forte. Vocês viram o judô?! Eles foram preparados, a Adriana está com eles há anos, ela está há dois ciclos com os atletas, e não foram tão bem. Se do outro lado tem um cara que nem esteja melhor preparado, mas em um momento melhor…e todos tem que assumir a sua parcela, não é ganhou eu sou o bom, nós somos um conjunto de fatores.
QC: Como você trabalha a questão da equipe e do indivíduo?
SF: Bom, a gente só consegue enxergar o grupo a partir dos indivíduos. Então a força do grupo vem do individual. Então para eu dizer: “esse grupo tem uma identidade psicológica”, eu preciso medir essa identidade individualmente, não tem como fazer. É que o ideal é fazer as avaliações iniciais, fazer um plano de trabalho, identificar onde eles estão e aonde eles querem chegar, os “gaps”, o que eles já têm de recursos e competências, o que ainda precisam desenvolver e mudar o plano individualmente. Isso é o ideal. O real: já está no final da competição, não dá para fazer esse trabalho individual, então eu vou enxergar esse grupo coletivamente. Depois de tantos e tantos anos trabalhando como “bombeira”, eu desenvolvi uma metodologia para que isso acontecesse. O que é que eu faço? Eu faço uma avaliação. Eu tenho o POMS, que é um instrumento de avaliação utilizado nos esportes e nas empresas. Eu vejo a ansiedade, depressão, a tristeza, a raiva e irritação. Identifico a energia, a disposição, o entusiasmo, a alegria, que é o combustível. É isso que faz o Jordan ser o Jordan. Depois eu vejo o cansaço físico. Físico por quê? Porque quando eu estou fisicamente cansada eu fico com o limiar de paciência menor e vou ver o nível de confusão. Esse mapa é o retrato, não é o que eles são, é como eles estão. Por meio desse mapeamento, identifico quem está melhor condicionado para jogar melhor e não para eu tirá-lo, mas se eu estou vendo que alguém está muito irritado aí faço intervenções. Na reunião inicial que eu fiz na apresentação para o time do Bahia, eu mostrei como é que nós usamos o psicológico para jogar a favor. Veja que eu estou usando o Coaching. Coaching é um método, tem a terapia que é um outro método, como protocolo. Coaching é apenas um método psicológico. Se o meu cérebro fosse um celular, um dos aplicativos que nós usamos aqui é o PSAI (Pensar, Sentir, Agir e Interagir). Não dá para separar o PSAI. Então, o que eu ajo, o que eu faço, que é a base do Coaching de mudança, está aqui no Agir. Depende do que eu penso e do que eu sinto. Vou dar um exemplo prático: A Fabiana Murer – ela planejou aonde queria chegar, o pódio, entre os três primeiros colocados. Identificou de onde ela estava partindo, o que tinha que corrigir e o que tinha de favorável. Ela fez uma ponte de trabalho, que é o nosso plano de ação – fez isso por meio do técnico. Ela fez o treinamento, agiu, corrigiu, aproveitou os feedbacks e foi para a competição. Na competição, com tudo dentro de um planejamento legal, acontecem os imprevistos. O que aconteceu? A vara sumiu. Ela já tinha que ter um trabalho prévio de saber lidar com as adversidades. Plano de contingência que no Coaching nós fazemos, mas ela precisa lidar também com a ansiedade, angústia, medo, com a raiva, com as emoções. Então não tem como trabalhar com seres humanos se você, que é Coach não souber como funciona. O que é a ansiedade? De onde vem? Você sabe como lidar com a ansiedade? Tem que saber! Ansiedade e alegria – como é que nós vamos lidar com essas emoções primárias. São cinco: medo, alegria, raiva, tristeza e amor. Temos que ajuda-la a saber e desenvolver porque o plano de contingência é cognitivo, é a forma de pensar e raciocinar. Mas ele não vai saber lidar com esta parte mais emocional se eu não tiver o mecanismo racional aberto para saber gerenciar isso. Então o psicológico joga a favor. O esporte de alto rendimento vive de resultados e é um trabalho cientificamente interdisciplinar. E essa equipe interdisciplinar são todos os profissionais, por exemplo, do Bahia Futebol Clube, desde o gestor, o gerente do futebol, o técnico, que na época era o Falcão, a nutricionista, o preparador físico. Eu falo que ,em um trabalho interdisciplinar ,os atletas são pedras preciosas e nós estamos aqui para lapidar, mas a pedra preciosa já existe. Além dos testes, eu faço toda uma avaliação com os atletas. Por exemplo: quantos cartões amarelos, quem jogou mais, quem fez mais gols, quem fez mais assistências. E com todas essas informações nós vamos criando um mapa, uma foto do momento atual. É preciso ter os fundamentos do PSAI, que é o modelo cognitivo. Dominar, talvez não precise, mas conhecer os quesitos básicos tem que saber, senão não vai conseguir fazer um trabalho legal. Além disso, o método Coaching bem ordenado, estruturado, coordenado e a parte do contexto para entender essa realidade. Então vamos colocar isso num mapinha: O processo de mudança do atual para o desejado. Se ele tiver mudança, tem que ter dois pontos: onde estou e para onde quero ir. Tendo os dois pontos, em que tempo você tem que considerar. Eu tenho 4 anos para o ciclo olímpico ou tenho 3 meses para falar inglês. Para cada um é uma estratégia. Eu preciso saber que tempo é esse. Aí eu vou para a estratégia. Na estratégia, para montar o plano de ação, eu preciso saber indicadores, como é que eu vou saber que eu cheguei ao resultado desejado? Exemplo: titulo do Campeonato Bahiano 2012. Como? Só tenho 6 semanas para chegar nisto. Como vai saber que a gente vai chegar lá? Técnica de viajar no tempo: são dois resultados que temos que visualizar, ganhamos o campeonato ou perdemos o campeonato. Primeiro visualiza que ganharam, aquela festa toda, ok. Depois visualiza que perderam. Agora reflete: o que vocês fizeram que conseguiram o titulo e o que deixaram de fazer que não conseguiram o titulo? Vão mapear e ter isto claro. Este trabalho foi muito emocionante. Precisa ter este psicológico muito bem trabalhado. Para vocês terem noção de como foi: nós ganharíamos se empatássemos o jogo. O Vitoria fez 1×0 e empatamos na sequência. Após o intervalo, fizemos 2 a 1. Resolvi ir embora, quando cheguei ao aeroporto estava uma gritaria e o Vitória tinha virado o jogo, estava 3×2 e foram até os 42 minutos do segundo tempo. Nos 42 minutos fizemos mais um gol e foram 5 expulsos e 9 minutos de reposição. Nós trabalhamos muito a situação de que a partida finaliza apenas com o apito. Não adianta comemorar ou ficar triste antes de escutar o apito. Dizia para eles: se não acabou, tem para nós!
A gente observa o que as pessoas fazem. A cabeçada do Zidane a gente viu, mas o que gerou foi a raiva. O combustível chamado emoção, se nós não incluirmos nas nossas sessões de coaching, ela joga contra, por mais estratégico que você esteja posicionado. E quem é responsável pelo emocional? É o pensamento. Nós temos o sequestro neural que é uma exceção que foi o que ocorreu com Zidane. Primeiro ele age e depois pensa no que aconteceu. O coaching é um método mecânico e você precisa saber o que fazer com este método. Exemplo: pegue a melhor a sala de UTI, do melhor hospital. Isto é coaching. São ferramentas técnicas, uma metodologia que te ajuda a ter uma vida melhor. Acontece que se coloco um arquiteto para operar aqueles aparelhos, ele não vai saber o que fazer com aquilo. Por mais bem intencionado que a pessoa seja, ela não vai conseguir. Coaching só é para psicólogo? Não! Tanto é que meu filho, trabalhou por 8 anos na DPZ, estava bem posicionado e financeiramente vai levar uns 2 anos para chegar onde estava na vida publicitária. Largou para fazer coaching, mas está estudando sobre comportamento humano, sobre psicologia. Primeiramente vai levar 2 anos nesta formação além de toda formulação de comunicação da empresa. Já faz atendimentos supervisionados e estuda psicologia. Ele está estudando o PSAI (pensar, sentir, agir e interagir). Está estudando os fundamentos. Tem um livro que indico chamado: A Mente Vencendo o Humor (Greenberger, Dennis). Este livro é básico da psicologia para usar no coaching.
QC: Fale um pouco do trabalho com o técnico e o quanto impacta na equipe.
SF: É fundamental. Às vezes trabalho mais o técnico do que a própria equipe. O técnico é o maestro. A equipe se espelha neste maestro. Ele dá o tom. O que acontece é que trabalho com técnicos que já conheço ou chego com uma ótima indicação, então me dão liberdade total e até pedem para eu orientar a equipe e ele mesmo. Se ele não comprar e me dar carta branca, utilizando algumas orientações que dou, não adianta fazer o trabalho.
QC: E como você lida com os jogadores que são estrelas?
SF: Vocês lembram quem são os atletas de futebol que são considerados os melhores jogadores do mundo? Rivaldo, Romário, Roberto Carlos, Kaká, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho. Destes, o único que não trabalhei foi com o Kaká, mas foi por acaso porque ele era juniores no São Paulo quando trabalhei lá.
QC: E como é este trabalho?
SF: É um trabalho especial. O Bernardinho chama: Egos e Vaidades e o Já Ganhou! Adversários Periféricos. Trabalho com tomada de consciência! O que você quer? Este comportamento que você teve, o que você quer tendo esta atitude? Qual sua meta? Este comportamento te ajuda ou atrapalha? Faço isto para ele perceber os impactos de seus comportamentos. Por exemplo: atendia um atleta de seleção e ele cuspiu no adversário. Ele ficou 3 jogos suspensos. Ele veio para atendimento e perguntei para ele: Qual a sua meta? A seleção. Este comportamento te ajuda ou te atrapalha? Atrapalha! O que você aprende com isto? O que pode melhorar? Você não tem mais uma chance de cuspir e não sei se você vai ser considerado um atleta para a seleção brasileira. Trabalho a consciência e reposicionamento de atitude, comportamento. Ele tirou a foto do filho da carteira e fez um compromisso com o filho. Depois falamos também do que isso pode representar na vida dele, família, patrocinadores, todos os impactos que uma atitude dessas pode provocar. Mas pegou muito para ele quando falamos do filho, ai ele fez um compromisso e escreveu no verso da foto do filho e falou que isso iria lhe servir para o resto da vida. De vez em quando ele ainda dá uma escorregada, porque tem o perfil – tem o carneirinho e tem o lobo – e é o lobo que ganha o jogo, então não podemos querer colocar o jogador na posição de carneirinho, mas sim ter um perfil mais consciente, responsável, para que não tenha reações impulsivas em momentos decisivos. Por exemplo, ataque de nervos em copa do mundo, não dá, tem uma repercussão que fica para o resto da vida. Então tem que desenvolver um reposicionamento de atitude, trabalho que vai sendo feito até tirar esses comportamentos do automático, mudando primeiro a forma de pensar e se continuar a pensar que o cara merece , que provocou, vai dar outra cuspida nele, fazendo um condicionamento, trabalho de repetição, até mudar um hábito ou crença.
QC: Uma curiosidade, porque você, sendo psicóloga e já trabalhando em RH, seguiu para a área do esporte?
SF: Foi absolutamente por acaso. Eu era funcionária da Johnson & Johnson e depois fui para o Grupo Pão de Açúcar e lá me identifiquei com a área de Treinamento e Desenvolvimento, sou Psicóloga, mas nunca trabalhei na clinica. Eu já sai da faculdade para trabalhar em RH. Ai na empresa para fazer com que os meus cursos e palestrar fossem mais agradáveis e descontraídos eu sempre fiz analogias, metáforas e correlação com o esporte. Numa convenção que eu organizei em Atibaia em 93, quando terminei de fazer a palestra e sai da sala, dei de cara com a equipe do Palmeiras, que estava chegando para uma concentração. Aquela era a primeira convocação do Vanderlei Luxemburgo, quando assumiu aquela gestão Palmeiras-Parmalat. Ai comecei a conversar com o Luxemburgo e perguntar se ele tinha Psicóloga na equipe, como funcionava e ele disse que não tinha e perguntou se eu entendia de futebol, e como eu entendia pouco e abriu a oportunidade – caso eu estivesse disposta – para conhecer, aprender essa linguagem, essa tribo – que tem uma linguagem e códigos próprios. Por mais que você domine a metodologia e seja competente você tem que se adaptar aos códigos da população com quem vai trabalhar. Para trabalhar com esportistas tem que ter um alto grau de responsabilidade, quando eu estava com a seleção brasileira, na Copa América, dentro do ônibus – estávamos em Foz do Iguaçu indo para o Paraguai – Era um espaço vazio, tranquilo, pouco movimento, mas o ônibus estava cercado por helicóptero, batedores na frente e atrás. Eu estava sentada ao lado do Coronel Castelo Branco, que está lá até hoje. Questionei o investimento e a necessidade de tudo aquilo e ele respondeu – Precisa minha filha, olha para trás – você consegue calcular de quanto nos levamos aqui em valores? Lá estavam: Roberto Carlos, Ronaldinho, Ronaldo, Cafu, Dida e nem é somente o valor monetário, estamos transportando um patrimônio mundial. Se acontecer algo com esse ônibus, o mundo inteiro vai virar os holofotes para cá. Isso é a consciência da importância do esporte e dos seres humanos que fazem essa festa.
QC: Qual seria uma frase de impacto que você gostaria de deixar para os leitores do Blog?
SF: Eu diria o seguinte, com os anos de experiência e formação que eu tenho cada vez fica mais claro que o ser humano é um tesouro de possibilidades, habita no ser humano um Olympikus, o melhor, um divino. Nós como profissionais devemos despertar e reconhecer, alimentar esse divino, ajudando as pessoas a viver do seu melhor, para consumo próprio e também para poder ser um ser humano melhor para os outros e para a sociedade. Devemos ter convicção de que as pessoas possuem todos os recursos de que precisam para serem felizes.