A comunicação é uma competência exercitada desde o início da vida. Iniciamos nossos processos comunicativos antes mesmo de nascermos. Pesquisas indicam que fetos já reagem a sons por volta de 3 meses de gestação.
Ao longo da vida nos comunicamos com incontáveis pessoas e em diferentes linguagens, da oral à escrita, da corporal à musical. Algo que se torna tão comum quanto respirar ou beber água. Simplesmente faz parte da vida.
Embora a comunicação seja inerente às pessoas, isso não significa que seja fácil ou isenta de problemas. A espécie humana é complexa e cheia de contradições, e a comunicação é permanentemente desafiada.
A mensagem emitida pode ser (geralmente é) diferente da recebida porque entre emissor e receptor encontram-se variáveis geradoras de ruídos comunicacionais como contextos culturais, diferenças de geração e gênero, personalidades distintas e suas respectivas visões de mundo, necessidades e desejos divergentes.
Para complicar um pouco mais, nossa sociedade é violenta de muitas maneiras. A violência física e a guerra entre Estados são apenas a ponta do iceberg. A violência doméstica e moral, o assalto às contas públicas e a corrupção podem causar mais sofrimento que armas.
Uma sociedade violenta inevitavelmente tem processos comunicacionais violentos. Expressões agressivas, preconceituosas e ofensas são comuns no cotidiano. Gestos e olhares também agridem e violentam.
Um caminho essencial para construir-se uma sociedade mais pacífica e humanizada está no exercício de processos comunicacionais diferentes. Se pessoas, grupos sociais e Estados pudessem se comunicar de forma menos violenta, as relações melhorariam e todos viveriam com mais qualidade.
O líder indiano Mahatma Gandhi vivia o conceito de AHIMSA, a rejeição constante à violência e o respeito absoluto a toda forma de vida. Gandhi sabia o quanto a comunicação impacta nas relações humanas e da sua força na vida social. Se a comunicação for violenta, as pessoas se exaltam e tornam-se agressivas. Mas, ao contrário, se a comunicação for pacífica, as pessoas se acalmam.
Gandhi inspirou vários autores na busca por modelos comunicacionais menos violentos. Um deles é Marshall Rosemberg, respeitado mediador de conflitos com atuação na Sérvia, Croácia e Ruanda. Ele desenvolveu um modelo comunicacional para solucionar conflitos, atualmente usado em mais de 65 países, e denominou-o de Comunicação Não Violenta, com 4 passos didáticos para sua prática cotidiana.
A observação sem avaliação inicia o processo. Trata-se de esforço para não julgar, rotular ou criticar, algo bastante desafiador. Se as pessoas sentirem-se julgadas e criticadas provavelmente reagirão. Sem julgamentos e críticas, as barreiras à continuidade da comunicação são derrubadas.
A expressão de sentimentos é o 2º passo. Identificar sentimentos, diferenciá-los dos pensamentos, e saber expressar emoções de forma clara e específica facilita a conexão e a empatia entre as pessoas.
O reconhecimento das necessidades escondidas por trás dos sentimentos configura o passo seguinte. Reconhecer uma necessidade não atendida e o sentimento vinculado facilita a comunicação porque alimenta a empatia. Desenvolve-se uma consciência de si e do outro, das necessidades e das responsabilidades emocionais com grande impacto na comunicação.
O pedido do que se precisa é o 4ª e último passo. Ser claro a respeito do que se precisa, usar linguagem positiva com foco em ações concretas, não soar coercitivo e estar preparado para respostas negativas são aspectos centrais.
A Comunicação Não Violenta proposta por Rosemberg objetiva aproximar as pessoas, com processos comunicacionais pautados pela empatia e mais humanizados. Não se trata de mudar o comportamento das pessoas para obter determinados resultados, o que significa estar ciente que respostas negativas são parte da realidade.
A Comunicação Não Violenta pode ser vivida nas relações pessoais e profissionais, com resultados vigorosos. A prática de processos comunicacionais mais pacíficos e humanizados reforça o paradigma da cultura de paz, algo urgente em nossa sociedade.
Sidnei Batista
Sidnei Rodrigues Batista é licenciado em Educação Física, mestre em Ciências da Motricidade pela UNESP. Possui especialização em Jogos Cooperativos e em Eneagrama. Fez a formação em Mediação, Facilitação de Diálogo e Construção de Consenso na Palas Athena. Autor de artigos sobre Jogos Cooperativos e Treinamento e Desenvolvimento (T&D) com foco em RH. Atualmente é sócio da Távola do Saber, na qual atua com programas de desenvolvimento humano e organizacional, e professor de pós graduação.
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