Com 2014 finalizando e 2015 chegando, é hora de traçar uma nova rota. Amyr Klink, em seu livro Cem dias entre o céu e o mar, conta uma passagem muito interessante:
Estava finalmente a mais de duzentas milhas da costa mais próxima e já começava a pensar no futuro, numa distante ilha chamada Santa Helena, pelo menos à minha frente.
À medida que ganhava distância da África, aumentava minha confiança no barco e a certeza de que um dia deixaria para trás a ilha onde Napoleão perdeu sua última batalha. Que grande dia seria este! Que significativa vitória para mim! Eu teria, então, provado que meus planos estavam certos e que a mais importante chave para o êxito da travessia estava há muito em minhas mãos: a rota.
Numa faixa larga, traçada dois anos antes e pintada de vermelho, estava a minha segurança – a certeza de que o projeto era viável. Passando em suave curva entre as ilhas oceânicas de Ascenção e Santa Helena, e ligando a costa da Namíbia ao litoral baiano, esta faixa indicava os limites de navegação em que deveria manter-me. Apesar da predominância de ventos de sul e da forte tendência de deriva para o norte, o esforço que eu fazia para me manter dentro da rota prevista era menor do que o trabalho que tivera, ainda em terra, para definir a trajetória ideal.
Dois anos de estudo foram consumidos nesta operação, em que não faltaram discussões apimentadas e dúvidas perturbadoras.
A viagem de veleiro para Caiena fazia parte deste trabalho. As intermináveis investigações em bibliotecas e tratados de navegação também. Mas o maior problema talvez tenha sido a escassez de dados e informações a respeito do assunto. Baseei-me sobretudo nas Pilot Charts inglesas e americanas e em outros estudos sobre correntes e ventos do Atlântico Sul fornecidos pela Diretoria de Hidrografia e Navegação, da Marinha (DHN).
No mar. O menor caminho entre dois pontos não é necessariamente o mais curto, mas aquele que conta com o máximo de condições favoráveis. Assim, mesmo um poderoso superpetroleiro é obrigado às vezes, a desviar o caminho para ganhar, em tempo e segurança, o que perde em distância. No meu caso, tendo como única propulsão um par de remos, o estudo de regime de ventos e correntes passava a ser fundamental.
É impossível remar vinte e quatro horas por dia. Assim, enquanto estivesse dormindo e o barco ficasse à deriva, era importante contar com correntes, se não favoráveis, pelo menos que não me viessem pelo nariz, roubando durante a noite o que eu ganhava, com muito esforço, de dia.
Esse estudo descartou, por exemplo, a hipótese de cruzar o Atlântico, de Serra Leoa ao cabo Calcanhar, no Rio Grande do Norte, num percurso de apenas 1.500 milhas náuticas (contra as 3.700 do meu percurso) por uma região quente e relativamente tranquila.
A minha rota, longa, fria e tempestuosa, contava, no entanto, com correntes favoráveis na quase totalidade do trajeto e com a preciosa regularidade dos alísios de sudoeste que unem o sul da África ao nordeste brasileiro. Caminho difícil e longo, mas o único possível para um barquinho a remo.
Para atravessar o mau tempo e as depressões do caminho mais longo bastaria um barco forte e bem estudado; mas, para vencer com os braços o fluxo contrário do caminho mais curto, nem toda a disposição do mundo seria suficiente.
Como os amigos navegadores que, com suas velas quadradas, não podiam vencer ventos e correntes contrários e eram obrigados a aceitar os rumos ditados pelo vento, eu me valeria, não dá força para ir contra as correntes, mas dá astúcia em saber acompanha-las. Por esta razão, seria necessário um especial cuidado em respeitar os limites da faixa ideal de navegação que eu traçava.
(Amyr Klink, em Cem dias entre céu e mar.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1985)
Trazendo esse relato do Amir Klink para o universo do Coaching, gostaria de sugerir duas reflexões:
– Qual a sua situação atual em dezembro de 2014? Onde você está hoje?
– Qual a situação desejada para dezembro de 2015? Qual o objetivo que deseja alcançar no final do próximo ano?
Um bom final de semana!
Cassia Verginia de Resende
Coach e facilitadora de processos de desenvolvimento
cassia@questaodecoaching.com.br
Essa foi a maior e mais abusiva de todas as viagens já enfrentadas por um ser, Ao Capitão meus sinceros aplausos, por essa grande aventura.
Perfeito Reinaldo! O Capitão Amyr Klink merece todos aplausos pelo sucesso dessa grande aventura, “cuidadosamente planejada”. O mundo empresarial tem muito a aprender com ele. Um abraço!