Neste ano de 2016, atendendo muitos profissionais que foram desligados de empresas, e que passaram e/ou estão passando pelo momento de “transição de carreira” (outplacement), ouvi de um deles o seguinte questionamento: por que as empresas não estimulam seus profissionais a fazerem um check-up da vida profissional? Essa questão pode não ser nova, mas a verdade é que pouca gente lida com ela ao longo da vida; e por várias razões isso acaba não acontecendo. Quando nos encontramos na segunda metade da vida ou nos situamos na amostra daqueles que se encontram na vida pós mundo corporativo, nos deparamos geralmente (para a grande maioria dos mortais, independente de idade, escolaridade, cargo ou nível sócio econômico) com esta interrogação angustiante: o que vou fazer da minha vida nos próximos 10 anos!? Tamanha angustia deve-se sobretudo ao fato de não termos neste momento da vida, um Plano “B” na ponta dos dedos. Os inúmeros depoimentos de profissionais que passam ou passaram por este processo de transição atestam a veracidade desta constatação: o que fazer quando temos de tocar a vida daqui para a frente, só que agora sem o crachá; quando parece que perdemos nosso sobrenome (nome da empresa que tivemos orgulho de pertencer e nos dedicar durante bons anos das nossas vidas). “Ao arrancarem o meu crachá, senti como se estivessem arrancando a minha pele” (Cláudia Giudice, em seu livro “A Vida sem Crachá”, jornalista e alta executiva que trabalhou durante 23 anos na maior editora do país e demitida em 2014). A vida nas organizações, e provavelmente fora delas, não nos ensina a sermos heróis do nosso próprio destino. Mesmo que o modelo mental/paradigma, a moeda de troca, a partir dos anos 90 tenha mudado na relação empregado x empresa, ainda preferimos continuar acreditando que vamos continuar vivendo ad eternum nas organizações. Ainda buscamos a segurança (remuneração, benefícios etc), necessidade de estabilidade (permanecer muito tempo, construir carreira, fazer sucesso etc.) e deixar um legado (marca para a posteridade). Claro que as pessoas podem recomeçar, mudar e iniciar uma nova etapa rica e muito feliz em suas vidas. Mas este não é o chamamento deste post. O destaque aqui é que ainda vivemos segundo a lógica do cisne negro. Para aqueles que desconhecem, até meados de 1698, ano em que a Austrália foi descoberta, não havia registro da existência no mundo de cisnes de outra cor que não o branco. Foi neste novo país que cisnes negros foram vistos pela primeira vez. Esta quebra de paradigma nos alerta para o fato de que, acreditamos, consciente ou inconscientemente, que estar um dia desempregado é um evento altamente improvável, fora das nossas expectativas (principalmente para aqueles que viveram muitos anos na mesma empresa, e cujo histórico de demissão é algo raro). E, quando do advento deste fato (demissão) o estrago provocado na nossa vida é de alto impacto. E, só iremos compreender e lidar com ela, depois de sua ocorrência. Portanto, é fundamental termos um Plano de Futuro, desenvolver as competências necessárias e não perdermos o foco para estarmos melhor preparados para lidar com as surpresas que a vida nos reserva.
Boa sorte e que tal fazer um Check-up da sua carreira?
Fausto A. Duarte
Graduação em Psicologia e Mestrado em Gestão por Competências (PUC/SP); nos últimos 15 anos vem atuando em Consultoria de Recursos Humanos desenvolvendo e aplicando programas de treinamento e desenvolvimento para Lideranças e Equipes e projetos relacionados a Mapeamento e Construção de Modelos de Competências, Seleção por Competências, Avaliação e Gestão de Desempenho, Mapeamento de Cultura Organizacional, Planejamento e Transição de Carreira.
Bom ponto, Fausto! Gostei.
Achamos mesmo que estar um dia desempregado é um evento altamente improvável. Da mesma forma, achamos improvável um dia morrer mas, curiosamente, fazemos check-up da saúde e não fazemos da vida profissional.
Vacilamos feio em não considerar a possibilidade do desemprego ou mesmo de uma atividade que nos preencha. Não por acaso, quando isso acontece, há um abalo geral na nossa vida. E, considerando o aumento da expectativa de vida, com certeza vale nos aprofundarmos nessa reflexão.
Malu querida, quem sabe essa pequena contribuição possa ajudar a nos lembrar de inserir essa reflexão no nosso dia a dia. Bj e obrigado.