No artigo anterior, vimos que a percepção de velhice vai além das mudanças naturais, biológicas do corpo; ela também é de ordem social e cultural. A literatura e as artes mostram que a visão do idoso e a maneira como ele é tratado, mostra a diversidade de percepção de sociedade para sociedade.
Entretanto, apesar das diferenças, existem algumas similaridades entre as sociedades. O antropólogo americano Leo Simmons estudou em 1945 a situação dos velhos em 71 comunidades indígenas (Role of the Aged in Primitive Society) com o objetivo de identificar a percepção deles sobre este momento de vida. Ele identificou algumas expectativas/desejos das pessoas velhas, a saber:
– viver o máximo possível;
– terminar a vida de forma digna e sem sofrimentos;
– encontrar ajuda e proteção para a progressiva diminuição das capacidades;
– continuar a participar das decisões que envolvessem aquela comunidade.
– manter o respeito, o reconhecimento, a propriedade e a autoridade dentro da comunidade.
Outro estudo foi feito por Elizabeth Uchôa, Josélia Firmo e Maria Fernanda Lima-Costa que resolveram conhecer mulheres idosas residentes em Bambuí/MG. Entrevistaram mulheres idosas que tinham uma representatividade naquela cidade assim como captaram suas histórias de vida. Os resultados apontaram que velhice é sinônimo de problemas:
– de saúde – doenças crônicas;
– econômicos: diminuição de renda x aumento de gastos com saúde;
– autonomia: declínio funcional na perda de movimentos para exercer as
atividades cotidianas;
– comprometimento na inserção social: os idosos são isolados de alguns
eventos ou decisões sociais;
– a morte de parentes e amigos;
– diminuição da rede social;
– isolamento
Embora em época e contexto cultural diferentes, conseguimos identificar neste estudo, características semelhantes sobre a percepção da velhice no Brasil de hoje. Ou seja, alguns fenômenos são recorrentes; basta observar os idosos de quem somos próximos.
Os estudos de Minayo e Coimbra mostram que há uma contraposição de visão entre jovens e velhos, sobre a velhice e a posição do velho na sociedade. Existe uma questão geracional que mostra que os jovens têm uma opinião e os velhos têm outra opinião. E, dentro de cada grupo, claro, existem divergências de opiniões e visões. Esse fenômeno social de contraposição de visões e valores influencia a decisão sobre o lugar do velho na sociedade.
Algumas pesquisas apresentam a percepção das pessoas sobre a velhice como sendo uma condição de solidão, dependência, fragilidade, inutilidade e doenças. O comportamento mais sanguíneo (vigoroso e dinâmico) não é esperado/aceito para os idosos, mas sim admirado nos jovens. Espera-se que um idoso seja calmo, sereno, lento, até curvado/arqueado. Por sua vez os idosos identificam nesta fase, perdas e limitações mas que elas podem ser mediadas por outras situações de suporte. Na resistência em aceitarem esta fase da vida, alguns idosos tentam retornar à sua aparência de jovens; outros, mesmo se sentindo como antes, adotam uma identidade socialmente imposta a eles, de velhos. Passam a usar uma máscara de idoso (mask of ageing).
As sociedades estabelecem direitos e deveres para cada faixa etária e isso acaba influenciando a posição onde os idosos serão alocados na sociedade e, consequentemente como serão percebidos. A lógica do sistema capitalista está centrada na produção de bens, no rendimento, na juventude e no dinamismo; sendo que a velhice, segundo as autoras acima, está na contracorrente. A convivência entre as diferentes gerações no trabalho acaba confirmando essa afirmativa. E essa comparação influencia a decisão da colocação política do idoso naquela sociedade. O momento da reconciliação vem com o reconhecimento da experiência/vivência e do saber acumulado pelos mais velhos, que podem contribuir com os mais jovens. Isso acaba influenciando também a posição dada ao velho na sociedade.
Uma conclusão é que precisamos nos livrar desta visão negativa e igualitária do envelhecimento. Enxergar este ciclo de vida como um processo singular onde cada sujeito constrói sua história de vida. Percebemos hoje que os idosos buscam um protagonismo no sentido de ocupar novos espaços onde possam exercer influência.
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Fausto A. Duarte
Graduação em Psicologia e Mestrado em Gestão por Competências (PUC/SP); nos últimos 15 anos vem atuando em Consultoria de Recursos Humanos desenvolvendo e aplicando programas de treinamento e desenvolvimento para Lideranças e Equipes e projetos relacionados a Mapeamento e Construção de Modelos de Competências, Seleção por Competências, Avaliação e Gestão de Desempenho, Mapeamento de Cultura Organizacional, Coaching Executivo e Transição de Carreira.