ENQUADRES DIFERENTES?
Fazer um processo de Coaching Executivo e fazer Terapia são duas formas de buscar apoio para tipos de questões ou demandas diferentes. O Coaching Executivo é indicado para trabalhar questões de aprendizagem, mudança, desenvolvimento de competências e potencial, tudo voltado para alcançar objetivos e maximizar resultados na área profissional. Já a Terapia tem como objetivo ser um recurso para lidar com as dificuldades da existência e as formas de sofrimento humano, olhando para o passado e para possíveis traumas existentes. Busca contribuir para a superação situações difíceis e ampliação da qualidade de vida.
O enquadre o Coaching Executivo é estabelecido por meio de um contrato em que devem ser observados os seguintes aspectos:
O enquadre da Terapia Psicológica
O setting , para Zimerman (1999), se conceitua como “a soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o processo terapêutico” (p.301). De acordo com Etchegoyen (1989), o enquadre constitui-se quando algumas variáveis se tornam constantes, sendo o terapeuta o personagem que tem a obrigação de fixar essas variáveis.
Em geral o enquadre terapêutico ou contrato inclui os seguintes pontos:
• Esclarecimento dos papéis;
• Lugar;
• Horários;
• Honorários.
O termo “contrato” é usado, nos dois casos, como similar à acordo ou termo de compromisso e não como um documento legal. É por meio desse mecanismo que expectativas realistas são explicitadas, papeis são definidos e objetivos são acordados.
Aparentemente os dois processos possuem enquadres similares, então o que diferencia esses dois processos?
AS DIFERENÇAS
Coach e Psicólogo – quais os benefícios?
Segundo o site da Universidade de São Paulo – Instituto de Psicologia – A Psicologia é uma ciência que tem por objetivo explicar como o ser humano pode conhecer e interpretar a si mesmo e como pode interpretar e conhecer o mundo em que vive (aí incluídas a interação dos indivíduos entre si, a interação com a natureza, com os objetos e com os sistemas sociais, econômicos e políticos dos quais façam parte). Enquanto prática profissional, a psicologia coloca o conhecimento por ela acumulado a serviço de indivíduos e instituições.
O Psicólogo é um entendedor da psique do ser humano, conhecendo as diferentes teorias que explicam o funcionamento emocional e a estrutura da personalidade. Esse conhecimento é colocado em prática em várias áreas de atuação, como: hospitais, escolas, ambulatórios, postos de saúde e no consultório.
O Coach que tem a formação de Psicologia, possui embasamento teórico diferenciado para lidar com o desenvolvimento do ser humano, não que ele vá trazer para o processo de coaching práticas e características da Terapia, mas o conhecimento teórico que possui lhe permite maior entendimento dos comportamentos do Coachee, durante o processo. A análise que faz das questões do Coachee e de seu comportamento, vão permitir que atue com maior assertividade em favor dos objetivos do seu cliente. Seu processo de questionamento para o Coachee será fundamentado em um conhecimento científico que cinco anos de faculdade de Psicologia lhe proporcionaram. Isso sem falar que muitos dos pressupostos do Coaching tem sua origem nas teorias da personalidade humanistas da Psicologia. O Coach Psicólogo traz para o Processo de Coaching esse valor agregado.
Algumas contribuições teóricas para a análise do que é subjetivo durante o Processo de Coaching Executivo:
Psicanálise
Freud nos apresenta o conceito de recalque que é um processo que visa manter no inconsciente todas as ideias, sentimentos e pulsões que podem afetar o equilíbrio psicológico do indivíduo. Esse mecanismo complexo ainda é suportado por alguns mecanismos de defesa que também impedem o livre fluxo de nossas emoções e sentimentos. Isso tudo muitas vezes pode explicar a dificuldade de um cliente para entrar em ação em favor de seus objetivos, o Coach que entende esses mecanismos pode buscar novas formas para facilitar o caminho do Coachee rumo a suas metas.
A transferência e a contratransferência são dois outros fenômenos que tem impacto na relação Coach e Coachee e que são de domínio dos psicólogos que estudam a teoria psicanalítica durante sua formação:
Transferência: sentimentos e impressões dos primeiros vínculos afetivos serão vivenciados e sentidos na atualidade da relação com o Coach.
Contratransferência: é compreendida como o conjunto das reações do Coach à pessoa do Coachee e, mais particularmente, à transferência deste, isso pode ser um problema para o processo de Coach, caso o profissional não esteja atento a esse fenômeno.
Gestalt Terapia
A Gestalt-terapia traz uma critica aos seguintes princípios da psicologia psicanalítica:
1) ênfase exagerada no passado em contraste com o que está acontecendo no aqui e agora;
2) ênfase excessiva em um modelo analítico racional que restringe a consciência;
3) ênfase excessiva na compreensão intelectual antes de entrar em ação;
4) foco na doença e não na saúde.
Todos esses aspectos são contribuições da Gestalt para o processo de Coaching, que permitem que a evolução do Coachee seja mais rápida. O conhecimento prévio desses aspectos que o Psicólogo adquiriu na faculdade, lhe permite aderência aos princípios do Coaching de forma orgânica.
Terapia Cognitivo Comportamental
A TCC é baseada na premissa de que a maneira com que você pensa sobre os fatos influencia profundamente a maneira como você se sente, que por sua vez, impacta sobre o seu desempenho ou comportamento.
Aaron T. Beck (1976) descreveu a existência de “diálogo interno”, a voz interna crítica em nossas cabeças que influencia nossa autoestima, fazendo com que duvidemos de nossa eficácia e amor-próprio.
Judith Beck (1995) descreve três níveis de cognições: pensamentos automáticos; convicções intermediárias (atitudes, regras e pressupostos); e convicções principais.
Um “plano” cognitivo frágil pode levar a “pensamentos” automáticos negativos, impedindo-nos de obter nosso verdadeiro potencial.
Esse conhecimento é extremamente útil ao Coach, que entendendo o impacto dos pensamentos sobre o comportamento, pode trabalhar com seu Coachee, por exemplo, para ressignificar crenças.
Abordagem Centrada na Pessoa
Desenvolvida por Carl Rogers, essa abordagem mostra uma nova maneira de relação terapêutica que extrapolou a clínica, e se mostrou útil em todos os relacionamentos interpessoais.
A abordagem centrada na pessoa foi fruto da prática clínica de Rogers. Na sua experiência com pessoas em psicoterapia, ele começou a perceber que a qualidade da relação entre o terapeuta e o cliente era fator fundamental para o crescimento deste. Segundo ele a relação terapêutica deveria ser pautada em três posturas fundamentais do terapeuta:
Para que o terapeuta imprima essas posturas na relação terapêutica Rogers destaca a preexistência do seguinte princípio: “as pessoas têm fundamentalmente uma orientação positiva.”
Resumindo, a qualidade da relação terapêutica é que vai dar sustentação a mudança e ao crescimento do cliente. No processo terapêutico com base na abordagem centrada no cliente a relação é nivelada, não é o terapeuta que detém o poder da cura.
O Psicólogo que estudou a fundo essa teoria durante sua formação, percebe que muito dessa abordagem é aplicada ao processo de coaching e isso já faz parte do seu arcabouço conceitual.
Psicodrama
Foi criado por Jacob Levy Moreno e possui conceitos principais, alguns citados abaixo:
espontaneidade-criatividade – capacidade do ser humano dar respostas criativas e espontâneas face a diferentes contextos.
teoria dos papéis – O papel só se materializa na existência de um outro papel complementar (pai/filho; professor/aluno; médico/paciente…) vivenciando uma “experiência interpessoal, na qual vários atores se encontram implicados e se influenciam mutuamente” assegurando a integração na sociedade. (Veiga, 2009, p.110). No psicodrama todos os papéis do indivíduo podem ser trabalhados.
Empatia – sentir o que se sentiria caso se estivesse no lugar e circunstâncias vividas por outra pessoa.
Dramatização – dramatização é o ato de colocar em ação o emergente grupal ou individual. Possibilita colocar em cena no presente, informação do passado e expectativas relacionadas ao futuro. Facilita a exteriorização e elaboração de conteúdo internos.
Esses são só uma pequena parte da teoria moreniana que traz grande possibilidade de aplicação ao entendimento das questões trazidas pelos Coachees.
No caminho rumo a seu objetivo o Coachee, precisa implementar mudanças, sair de sua zona de conforto, superar crenças limitantes e tudo isso tem um impacto emocional e o coach que também possui a formação em psicologia possui preparo para lidar com esse aspecto e também saber diferenciar qual é a abordagem mais adequada para a demanda apresentada.
Importante ressaltar que a aplicação de técnicas que são associadas às teorias citadas acima, sem ter o conhecimento aprofundado dos conceitos e fundamentos das mesmas, é temerário e pode causar mais prejuízos que contribuição positivas para os clientes de Coaching.
O exposto acima é apenas uma pequena parte da contribuição que a Psicologia pode trazer para o Coaching Executivo. Ser coach não psicólogo, é possível e pode ser de grande valia ao cliente, porém um coach com a formação em psicologia traz ao profissional uma bagagem em comportamento humano que deve ser considerada como um diferencial.
Abraços!
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